segunda-feira, 4 de agosto de 2025

Reencarnação (II)

Aurélio Muniz Freire

Dr. Aurélio Muniz Freire*

Continua a multiplicação dos Nicodemos sem  entenderem a lei dos renascimentos na Terra (Jo, 3:12). É porque ainda a letra prossegue matando, não sabendo  os homens dela retirar o Espírito que vivifica. Haveria uma salvação absoluta dentro de uma só vida, rumando a criatura desencarnada a planos paradisíacos, após o  decesso físico, caso fôssemos perfeitos, que não se dá. Jesus, compreendendo a imperfeição humana, dado que mergulhava profundamente no recesso da psicologia de cada um, lançou uma verdade que ainda reboa aos ouvidos do nosso tempo, quando, diante de quantos desejaram a condenação da pecadora, clamou: "Aquele que dentre vós estiver sem pecado seja o primeiro que  lhe atire pedra" (Jo, 8:7).

A salvação é progressiva, exercida continuada e  e lentamente no tempo e no espaço pelas vidas sucessivas (lei de reencarnação) à medida que vamos de nós expulsando as nossas faltas, diante das provas e expiações por quer passa a humanidade. "Aqui fazemos, aqui mesmo pagamos", enuncia a sabedoria popular, sem que por vezes entenda, quem assim afirme, a linguagem reencarnacionista aí oculta. O plano terrestre reveste-se ainda de  características infernais, pela nossa maldade. Por isso, o Cristo asseverou: "Em verdade te digo que não sairás dali enquanto não pagares o último centavo" (Mt, 5:26).

Qual de nós se pode dizer perfeito, puro e, por  conseguinte, salvo no mundo em que estamos?  Seria deslavada mentira, crassa hipocrisia, total carência de humildade se assim nos considerássemos. Seria arrogância, estulta vaidade, arremesso contrário à simplicidade. Prossegue, portanto, bem atual o clamor dirigido pelo Nazareno a quantos se postavam diante de Maria de Magdala querendo condená-la.

O imenso apóstolo dos gentios, ante a sua estatura espiritual, como "vaso escolhido de Deus" (At, 9:15), deveria, por esse mesmo fato, considerar-se perfeito, salvo. Entretanto, ele mesmo descarta essa hipótese, dizendo: "[...] nem mesmo compreendo o meu próprio modo de agir, pois não faço o que prefiro, e sim o que  detesto. Porque não faço o bem que prefiro, mas o mal que não quero, esse faço" (Rm, 7:15,19). Ora, quem desse modo fala dizia em outra oportunidade: "[...] já não sou eu quem vive, mas o Cristo vive em mim [...]" (Gl, 2;20). Sintamos nessas palavras a logicidade que  deriva do Evangelho de Paulo. Ainda, para tantos que se  julgam salvos, ouçam: "Aquele, pois, que pensa estar em pé, veja que não caia" (I Co, 10:12).

Para a Doutrina Espírita, vale a criatura pelo que  ela é, pouco importando a sua denominação, seus rótulos de crença, de descrença ou de filosofia. As religiões, os credos, as correntes doutrinárias, por serem criações humanas, são apenas caminhos, meios ou processos de purificação do homem. Sofrimentos, dores, decepções, ansiedades, angústias, paulatinamente, cinzelam o homem retirando-o por aí de seus desvios milenares. É a missão sublime da reencarnação, aparando, vencendo nossas arestas, polindo as pedras brutas que ainda somos. À medida que melhorarmos nosso comportamento, pela real vivência dos ensinamentos cristãos, iremos formando a verdadeira humanidade, unida e fraterna, a  ponto de contribuirmos à integração de um único rebanho para um único Pastor (Jo, 10:16).

Ademais, se nos dissermos salvos, redentos, seria o mesmo como estivéssemos na posição de criaturas sem máculas, quando Aquele que poderia ter-se como bom e puro exclamou: "Por que me chamas de bom? Ninguém é bom senão um só, que é Deus" (Mc, 10:18).

Busquemos a melhor interpretação nas  sábias palavras dos Evangelhos para não cairmos na aceitação repetida de tantos erros e distorções do verbo que vem do Alto. Muitos se afirmam sábios e até procuram assentar suas posições dizendo-se  ministros de Deus. Cuidado! "Se alguém julga saber alguma coisa, com efeito, não  aprendeu como convém saber" (O Co, 8:2).

*Jurista e escritor / Garanhuns, PE - 2011.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Um livro de intensas emoções

João Marques* | Garanhuns, 09/06/1995 O Diocesano de Garanhuns e Monsenhor Adelmar (de corpo e alma) é um livro, sobretudo, de saudades...  ...