O mundo atual cresceu desmedidamente em sua expansão tecnológico. Todos os departamentos da ciência contribuem de maneira expressiva a esse desenvolvimento material. Costumamos dizer que amadureceu o conhecimento humano, para com isso enfatizarmos tudo ser possível dentro das conquistas modernas e científicas. Inegavelmente, tem sido grande o esforço de cientistas e de nações para o maior crescimento do conforto, do bem-estar da humanidade neste século.
A par de tanto progresso, sente-se insegura a criatura, sem garantias, em constante desajuste consigo mesma e com o mundo. No lar, no trabalho, nas reuniões sociais, na rua, sentimos e ouvimos a intranquilidade individual e social, numa explosão de murmúrios, diante da insegurança do nosso tempo. Quando a linguagem de tal estado psicológico não vem articulada nas palavras, é silenciosamente que ela fala mais alto, porque, nas fisionomias que se fecham, lemos os pensamentos profundos de almas sofridas, aflitas, que se estorcem em sofrimentos indizíveis.
Naquela linguagem articulada ou silenciosa, diagnostica-se o mal da nossa época. O homem está sedento, faminto de verdades espirituais, que o tranquilizem, que respondem sensata e racionalmente às suas perguntas. Tanto evolveu a tecnologia do nosso tempo, tanto se expandiram os inumeráveis departamentos científicos, e tão pouco se fez em prol do equilíbrio psíquico, emocional, da criatura humana. Não desconhecemos, nesse particular, a preocupação, a luta, o trabalho de pensadores, de cientistas sociais, de filósofos, de homens, enfim, daqueles que se dedicam sincera e devotamento ao estudo da etiologia desses aspectos patológicos, que se adentram profundamente em nosso psiquismo. Karen Horney diria sofremos de profunda obsessão neurótica do nosso eu. Emmanuel, situado igualmente o problema, apenas o enfocaria sob nomenclatura diferente, chamando-o de hipertrofia congênita do ego. Assim, diagnosticando as neuroses de nossos dias, ambos se alinham (em dimensões diversas) no apontar caminhos à erradicação do mal, pela transformação interior da alma em conflito. Ainda a Psiquiatria, no saber abalizado de modernos conceitos psicanalíticos, recebe, em Erich Fromm, a terapêutica do amor qual técnica precisa, eficaz, às nossas enfermidades mentais.
Não obstante o desajuste contemporâneo, muitos sonham com dias melhores. Anseios e intuições vibram pela harmonia de um mundo melhor, mais justo, mais cristão. Ao lado de tantas vicissitudes, criadas pelo próprio homem, muitas buscam o renascimento em nossos costumes, como se o Cristianismo viesse a se implantar em nossa sociedade, em tempo não distante, ditando as regras, a lei e o direito dos nossos anseios, tornando realidade nossas esperanças. Decerto, cremos numa outra renascença, num outro movimento de transformação moral e espiritual da Terra, quando veremos banidas a violência, as emoções em desenfreio, as ambições desmedidas, que ainda nos garroteiam em nossas prisões mentais.
A inteligência atual finca-se em franco dualismo. As sombras afastam as luzes. O crime expulsa a virtude. As guerras distanciam a paz. As doenças contaminam o homem, repelindo a saúde. Antes, assentamos aquela preocupação de psicólogos, de psiquiatras e de psicanalistas com a nossa psicosfera social e individual. A sociedade evidencia diuturnamente os desajustes que invadem os lares. O quadro nosológico das obsessões tece uma gama infinda de desiquilíbrios físicos e espirituais. Também a mediunidade ignorada e desconhecida de tantos, sem aplicação útil, escreve um grande número de tragédias no seio das famílias. É incalculável o número dos que emprestam seus corpos, suas mãos e sua mente para que outras inteligências invisíveis a muitos operem em nosso hábitat, multiplicando a agressividade pelas armas do desamor. Na humildade das tendas espíritas, tantas vezes assistimos à erradicação de processos mórbidos, que lançavam pacientes ao desiquilíbrio e à loucura. Isso porque a terapêutica, nessa parte, à luz da Doutrina dos Espíritos, distanciando-se da periferia dos efeitos, penetra o veículo perispiritual do doente, dele arrancando, quando possível, os traumas profundos que o lançavam em atitudes mentais desordenadas. Os desvios do comportamento, quando não atingem suas formas mais graves, resvalando ao campo das neuroses ou das psicoses, constituem o grande problema do nosso tempo, exatamente para despertar a atenção do nosso século, que ainda dorme, indiferente ao apelo socrático do "Cognosce te ipsum".
O presente, o hoje, é a síntese do tempo, porquanto assimila a experiência passada, de ontem, assentando marcos, balizas para o amanhã da vida futura. O agora é o passado que se foi e é depois que virá, numa aceitação de sensível filosofia de vida. Importa-nos interpretar o momento que passa, porém, sobretudo, lutar pela sua transformação. Essa é a tarefa primordial da ação humana em nosso mundo. Renovação é o seu nome. Reflexão, o seu caminho. Na lição de Paulo de Tarso ao Coríntios, procuremos ser novas criaturas, numa exegese mais intensa do ensinamento cristão. Com o mesmo "Bandeirante do Evangelho", digamos à gentilidade do nosso tempo: "As coisas antigas passaram; eis que se fizeram novas".
*Jurista e escritor / Garanhuns, PE - 2011.
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