João Marques* | Garanhuns, 09/06/1995
O Diocesano de Garanhuns e Monsenhor Adelmar (de corpo e alma) é um livro, sobretudo, de saudades...
Antigos alunos que o veem ficam cheios de recordações e tenho ouvido de muitos as manifestações de aplauso ao livro de Manoel Neto Teixeira. Não param os elogios, os artigos e as cartas dando testemunho fiel ao que se afirma no hino do Colégio: "Ginásio amigo, querido lar, / Tudo faremos por te exaltar".
O autor, gremista e participante da vida de Garanhuns, embora em Recife, manda-me sempre, quando não vem, este material extenso, que se publicado todo, seria mais outro livro grosso. Do escritor e acadêmico Severino Florêncio Teixeira, por último, me mandou outra carta, comprida e, do começo ao fim, feita com muita emoção... Uma linguagem comum a todos nós que estudamos no "Gynásio". Mesmo que não nos conheçamos, tenhamos estudado em diferentes épocas, todos temos um passado igual, uma linguagem só e definida para falar do Diocesano. O livro, de um grande valor histórico, e, para os antigos alunos, a própria casa, o quintal dos folguedos e o sonho que nunca mais acabou.
Sem mais comentários (por hoje), transcrevo trechos da carta/artigo de Severino Florêncio Teixeira, que finaliza a "missiva" dizendo: "PS. Graças aos meus cinco anos passados no Ginásio de Garanhuns, consegui ser na vida:
Radiator - jornalista - professor universitário - membro da Academia Maceioense de Letras e do Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas. Atualmente, sou "Senhor de Engenho de Rapadura" e estou vereador pela minha terra natal: Chã Preta - Alagoas".
"Caríssimo ex-aluno do Diocesano, li o seu maravilhoso e importante livro de uma assentada. Mas o li com sofreguidão, como se não houvesse mais tempo para nada. Como se fosse morrer sem ter a feliz oportunidade de saborear tantas emoções e tantas alegrias. Uma alegria misturada com forte dose de saudade."
"Também tive a glória que jamais esquecerei de ser um ex-aluno interno do Ginásio Municipal Diocesano de Garanhuns. Eu e mais dois irmãos: Clóvis e Mauro Teixeira."
"Mas o de que eu quero falar neste instante de intensa emoção após a leitura do seu precioso livro tão importante para um ex-aluno do Diocesano de Garanhuns, quando a Bíblia para o cristão, guardada as proporções...
Aquela entrada do majestoso templo... com o São José Pintado na parede que separa as duas escadarias... o quarto do Diretor à esquerda de quem sobe para o então dormitório lá em cima, com aquela infinidade de Cama Patente, todas arrumadinhas, caprichosamente arrumadinhas... o corredor no primeiro pavimento dando entrada para não sei quantas salas de aula... aquele corredor comprido que não acaba mais, no qual, sem que o Diretor soubesse, fizemos um "quadrado" e não sei como, caí desastradamente e tive o braço direito pisado e quebrado por um dos colegas por nome de Quincão. Doeu muito, ainda me lembro, mas não fiquei com qualquer mágoa do colega, pois entendi, na ocasião, que tudo foi fruto de uma brincadeira. Foi como se estivesse jogando futebol lá em cima, no campo grande do Ginásio, para onde íamos nas tardes de sábado, feriados e dias santos para passar manhãs e tardes inteiras... e quando pelas cinco da manhã a sineta tocava e nós descíamos com bacia de ágate, toalha de rosto e escova de dentes para asseio obrigatório de todos os dias... e as idas até a Vila Maria nos sábados pela manhã para tomar um banho completo e necessário... são tantas as recordações.
Um dia Dona Almira falou com a turma da quinta série para anunciar que o colégio ia fazer uma espécie de gincana para angariar fundos para a construção da igreja de Santa Terezinha, sob a responsabilidade do padre Tarcísio Falcão, nosso professor. A incumbência da turma seria representar uma peça intitulada Garcia Moreno. A turma se constituía de 19 alunos. Os papéis foram distribuídos por Dona Almira, a diretora teatral, e coube a mim um papel de Ministro. Todas as turmas do ginásio tomaram parte. Todas brilharam. Mas, a que mais rendeu financeiramente foi a nossa turma. Uma grande festa no final do espetáculo que superlotou a plateia com espectadores da alta sociedade garanhuense.
Nosso paraninfo foi o queridíssimo professor Dr. Mário Matos, que fez um brilhante discurso que chegou a emocionar todos nós.
Ainda hoje tenho na lembrança a caminhada entre as camas do dormitório daquela sotaina preta que passava silenciosa e farfalhante, para verificar quais os internos fujões daquela noite. Era a figura leve do Diretor Padre Adelmar Valença, como ainda hoje chamamos, embora que hoje merecidamente Monsenhor.
E os ensaios para aprender o hino do ginásio letra e música do Padre Pedro Magno de Godoi, aquele correntino ilustre? Aprendemos e amamos tanto o hino do Padre Godoi que ainda sabemos cantá-lo, alguma parte.
Alto padrão de civismo e de glória
Templo sagrado de luz e saber...
Pois bem, nobre ex-aluno do Ginásio de Garanhuns, você, a quem não tenho ainda a ventura de conhecer, me fez, pela emoção que me trouxe a leitura do seu importante livro, me trouxe, mais uma vez, as doces e eternas lembranças dos meu cinco anos de internato. E tanta coisa mais teria de dizer, de recordar, de reviver".
Nenhum comentário:
Postar um comentário