João Marques* | Garanhuns
Pouco tempo depois em que havia aprendido a ler, comprei um jornal. Domingo de manhã, muita gente lendo pelos bancos da avenida. Eram dois grandes jornais, Diário de Pernambuco e Jornal do Commercio, de Recife. Nesse dia, chegavam às 10 h, enquanto dezenas de pessoas esperavam em redor da banca, disposta na larga calçada. E eu quis ter o prazer de adquirir, também, um jornal e sentar em um banco.
Por esse tempo, década de 50, surgiu na cidade O Menor, do jornalista Humberto de Moraes. Todo o sábado à tarde, eu o adquiria, e lia todas as páginas. Mas, mal grado do destino, o jornal inesperadamente chegou logo a sua última edição. Lembro que li, na primeira página, o texto de despedida. Humberto de Moraes justificava o decesso à falta de apoio, e lamentava muito a interrupção. Não me lembro se chorei, mas que senti uma grande tristeza. Como é triste o fim de um jornal! Isso me fez respirar fundo e decidir, ali, abraçar a causa. Com o exemplo daquele grande profissional, dedicar-me também ao jornalismo do interior, tão difícil de ser realizado.
Veio, depois, minha participação em O Monitor. Semanário e maior jornal da cidade, por mais de 50 anos. E, por duas vezes, Humberto foi diretor. Sendo ele, então, meu amigo e admirador, confiou a mim a direção da página de cultura. Estive, assim, por muito tempo, publicando minhas crônicas e poesias no jornal.
E pude, em 1995, lançar o meu jornal, O Século. Humberto de Moraes, já idoso e se despedindo do jornalismo, que tanto amou, pôde ainda colaborar com o meu jornal mensal. Mas é importante aqui relembrar a vez em que fiz A Semente. Jornalzinho mimeografado, de curta duração. Surgiu assim: acontecia a possível perda das máquinas linotipo, que tinham sido utilizadas pelo jornal O Monitor. Pertenciam à Diocese, então, e estavam à venda, para outra cidade. Ante esse problema, do fechamento do jornal e venda das máquinas, houve a difusão de um grande protesto, pelo noticiário da Rádio Difusora de Garanhuns, A Cidade em Foco, do mesmo Humberto de Moraes. Tendo escutado atento o protesto, fui e resolvi mimeografar A Semente, como forma de esperança e apelo pela manutenção das máquinas na cidade e desejada volta da impressão de O Monitor.
O modesto jornalzinho foi muito aceito e ensejou o surgimento do Jornal de Garanhuns, de Mauro Lima. As máquinas ficaram na cidade, com aquisição e volta da circulação do jornal antigo, pela Prefeitura.
É a minha história, no comportamento de uma crônica. Vinte e nove anos depois, mantenho O Século. Remanescente de um tempo de muita luta pela Imprensa. E, apesar do desaparecimento dos maiores jornais, hoje, não acabarão as lembranças... ficam os anais, dignos de louvor. Por mim, a luta continua, remetendo-me à convicção de que, na vida, tudo o que é melhor só pode ser fruto de muito esforço. A homenagem oportuna e merecida aos jornalistas passados: Humberto de Moraes, Rossini Moura, Ulisses Pinto, Almir Alves, e presente ainda, de Recife e de Garanhuns, Manoel Neto Teixeira.
*João Marques dos Santos, natural de Garanhuns, onde sempre residiu, é poeta, contista, cronista e compositor. Teve diversas funções nas atividades culturais da cidade: foi Presidente da Academia de Letras de Garanhuns, durante 18 anos, Diretor de Cultura do Município e, atualmente, é presidente da Academia dos Amigos de Garanhuns - AMIGA. Compôs, letra e música, o Hino de Garanhuns. Mantém, desde 1995, o jornal de cultura O Século. Publicou quatro livros de poesia: Temas de Garanhuns, Partições do Silêncio, Messes do azul e Barro.
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