domingo, 16 de junho de 2024

Almira Valença

Almira da Mota Valença

Dr. José Francisco de Souza* | Garanhuns, 07/02/1987

Durante a longa faixa etária de seu magistério, a sua vida foi integral doação aos colégios. Coração sempre aberto para acatar e transmitir compreensão. Falava de alma receptiva, onde o seu universo intelectual era pontilhada de amor. A sabedoria do seu silêncio marginalizava qualquer conflito. As normas de sua vocação apontavam os caminhos seguros e retilíneos.

A modéstia caracterizava a fidalguia de seu trato. Jamais alterava a voz, quando o comportamento dos alunos, tentava alcançar o inesperado. Não perdia a calma, a tranquilidade era a sublimação de seu mundo interior. A vida para ela é um processo de renovação constante. Nesse sentido ninguém pode imaginar por  outrem.

Talvez, jamais tenha lido SARTRE, contudo se transfigurava, no sentido de que "Uma imagem pode ser sem ser percebida, pode estar presente sem estar representada". Essa imagem constatava a sublimação de seu entendimento. Sua imagem como educadora estava sempre presente. Era a plenitude em forma de pensar. Sentia que seus atos manifestavam consciência de alguma coisa, que pertencia ao seu mundo. Todo fato psíquico é síntese, é redução integral do conhecimento de sua natureza. É também forma e possui uma estrutura.

Essa imagem, forma estrutural, constitui o caráter irredutível de sua conduta profissional. Temática considerada pelo seu espírito como fundamental. Os alunos não estavam capazes de entender isso. Muitos de seus colegas também. Para estes ela dobrava a fidalguia com um sorriso enigmático. Era uma entidade humana que segundo o seu currículo profissional e pedagógico todo ser humano que se matricula num colégio, não é um estudante. É um necessitado.

Frequenta um curso para passar, e passa, não para saber. Na maioria dos casos, passa no sentido de assegurar um bom emprego. Daí a negação do valor, quando não conquista posição política, social. O valor é representativo, e não qualitativo.

Conviver com a fidalguia de seu espírito, era uma dádiva divina, que se  revelava através de maneira de opinar. Sempre o fazia a contento. Jamais lhe faltara senso de exatidão. Apercebida, nos momentos exatos, o exemplo para ela seria o maior e o mais importante dos argumentos. É como dizia o mestre Tobias Barreto, o estudante deve ser sempre um aluno, porque na prática a teoria é outra. Tudo isso se conjugava à personalidade de Almira Valença.

Na sua alma havia grande reserva de ternura. Viveu modestamente apoiada numa fortaleza moral. Certa de que a sua missão era esquecer as ingratidões. Nem todos podem ao mesmo tempo alcançar o seu valor.

É claro que ninguém pode imaginar por outro. Deve haver respeito a essa outorga psicológica. A eternidade começa aqui neste vale de lágrimas. Para o bom cristão a encarnação do verbo espiritualizou o mundo. O profano não existe no conceito dos espíritos em via de aperfeiçoamento. Possibilidades amplas de se preparar a humanidade na terra dos homens.

Compreendendo que o ensino é o caminho válido ao aprimoramento da sociedade, soube deixar às gerações futuras um maravilhoso legado, como exemplo, em favor do desenvolvimento da cultura didática para nossa Garanhuns, terra que amou com a intensidade telúrica de quem vivia de olhos fitos, no azul suspenso, do alcandorado céu. O Magano sempre virente a desafiar o infinito era musa inspiradora de seus momentos de contrição. Era um espírito Eleito.

ALMIRA DA MOTA VALENÇA

Fora reconhecida por todos nós como a maior autoridade orientada pela sabedoria do silêncio. Expressão marcante do ensino em Garanhuns, falava pouco e bom. Aliás, essa característica, é fundamental na conduta vocacional dos Valença, tendo como figura ímpar e nobre do Padre Adelmar da Mota Valença. Esse conceito é sobretudo óbvio.

Ensinou em vários colégios, no Santa Sofia, no Jerônimo Gueiros e fora também Instituto Escolar do Município. Era pedagógica e religiosamente Ecumênica.

Depois de largos anos de vida, terminara a sua missão aqui na Terra, desencarnara em data que os jornais da capital já noticiaram, hoje seu espírito se debruça livremente a descortinar as belezas do panorama, nova dimensão da vida, em que a sua alma sente com intensidade os efeitos contínuos da bondade e misericórdia de DEUS. O perfeito amor, contudo, compreende que o PAI CELESTE traçou caminhos infinitos para evolução e aprimoramento das almas, que a felicidade não é a mesma para todos e que amar significa entender e ajudar, abençoar e sustentar sempre os corações queridos, no degrau de luta que lhes é próprio.

Almira Valença, assim muitas vezes conduzia pela mão D. Maria José, (minha esposa) que é deficiente visual, pelos melhores recantos do jardim do Diocesano até a Capela, onde ia assistir à missa dos sábados. Não fora delírio de nossa imaginação quando aludimos que ela não fora mais sublime talvez por falta de espaço para percorrer todos os caminhos de seu universo de amor.

*Advogado, jornalista e historiador.

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