terça-feira, 30 de janeiro de 2024

Garanhuns - Celeiro de Revistas e Jornais

O Papel Jornal em 2013 fez uma escavação sobre o passado jornalístico de Garanhuns e resgatou "tesouros" como a "Revista Moderna de Literatura e Mundanismo" Cidade de 1940 


O que chamou a atenção na matéria, por constituir mistério, enigma, verdadeira charada, é o anúncio, inserto  da Revista Cidade, da Pastelaria Central que, entre inúmeras mercadorias, como bombons, biscoitos e frutas, oferecia drogas, ferros em geral, bebidas SOVIS, lâmpadas, Coleman e "FERROS DE ENGOMAR SEM CARVÃO E SEM ENERGIA ELÉTRICA". Outra matéria da Revista Moderna e mundana Cidade, sobre futebol, é curiosa hoje: "fan de bola hábil refree organiza conjunto pebolístico com players garanhuenses" para formar um team o speaker fulano. Essa matéria e Os aldeões de Garanhuns de Manoel Neto Teixeira, inauguraram página nesta Revista, reservada para a História de Garanhuns. Em elaboração por Ormito Azevedo e pelo próprio editor, matéria sobre o lendário Coronel Francisco Simão dos Santos Figueira (tio do imenso médico Fernando Figueira, criador do IMIP).


Fator preponderante característico do alto nível cultural, do quilate intelectual de uma cidade, é a capacidade de seu povo de ler e escrever. A medida dessa escala vital da capacidade humana, do potencial de aquisição e aperfeiçoamento cultural, está razoavelmente vinculada à imprensa (mídias).

Leitura e escrita foram vitais para o desenvolvimento cerebral que elevou a espécie humana à condição de  Homo Sapiens, sapiens é sabedoria, sabiedade, sapiência, e sapiência exponencial caracteriza o povo de Garanhuns, historicamente considerando. A despeito da fase atual excessivamente comerciária, no sentido de alienação cultural.

E a forma mais favorável, o meio mais adequado, o médium mais íntegro para tal, isto é, a situação onde a condição ler e escrever comungam - e mais que isso conubiam-se civilizadamente, é a mídia, no caso escrita, que é o jornalismo.

E Garanhuns é berço, parto, cerne, cave, útero, lavoura, silo, messe, celeiro e paiol de jornais. Centenas foram  - e são criados, uns com curso longo - como o octogenário O Monitor, outra efêmeros mas intensos, que deram o recado e marcaram a época em que brotaram. E é desta safra de veículos de comunicação escrita que a cidade, que é líder cultural dos agentes, se privilegia.

O jornal possibilita num mesmo espaço e tempo escrita (a cargo de centenas de pessoas debruçadas nas redações e sempre se renovando) e a leitura, a que se dedicam criteriosa e habitualmente as pessoas em geral.

Merecia - se já não fora - ser feito um levantamento e historiada essa condição de celeiro ou silo de jornais, que distingue Garanhuns. E é marca firme, rastro legítimo da história de um povo leitor, prenhe de novidades.

Essa terra, essas serras, essa comunidade não são só beleza natural e humana, mas cultura fundo. E pegada do futuro.

E é claro que venha o peso intelectual e a força cultural de Garanhuns à baila quando se levanta o mérito de criação de jornais e revistas.

Feito esse exórdio (o termo retórico aqui, agora, cabe como luva) vamos nos debruçar, num exercício de  retrospecção útil, sobre periódico - que se vivo = estaria a completar 73 anos: CIDADE (Av. Santo Antônio). Cujo frontispício rezava: "Revista Moderna. De Literatura e Mundanismo". Seu criador: Luiz Maia. Secretário de Redação: Jaime Luna e Chefe da Redação: Francisco Fernandes. Com 22 páginas, Cidade contemplava anúncios, pequenas notícias, reportagens, crônicas, contos, esportes, poemas, tudo comedidamente, na medida da modernidade do mensário, inaugurado no início da 2ª Grande Guerra: 1940.

Anúncio publicitários da época (1940) revelam na área médica: Pedro de Góes, Godofredo de Barros, José Lima (pediatra), Luiz Guerra (ginecologia - foto), Raul Camboim, diretor do Sanatório de Garanhuns (atual Hotel Tavares Correia); advocacia: Urbano Vitalino (Rua Dantas Barreto, 13). João Rufino Melo, Osvaldo Gadelha, João Domingos da Fonseca, Erasmo Peixoto e Epitácio Pessoa. No comércio: Adalberto Azevedo da Confeitaria Central, com vendas de biscoito, chocolate, papel em bobinas, drogas em geral, lâmpadas petromax coleman e ferros de engomar (sem carvão e sem energia elétrica). Pode crer.

Oficina São Cristóvão, de Francisco Correia Ramos: conserto (grafado concerto) de automóvel e serviço de ferreiro. Moinho Confiança (Café Vitória). Casa Santa Terezinha, de Elias Zelaquett, o armarinho mais chic da  cidade (Avenida Santo Antônio, 370)! Na Melo Peixoto, 68, Pedro Cavalcanti fabricava a afamada aguardente Polense. E na Santo Antônio, 264, a alfaiataria da elegância, de Antônio Morais. O Banco de Garanhuns, em meia página 3, dizia: é elegante, prático, seguro, e revela sua educação fazer pagamentos com cheque. Na página 3, da revista Cidade, a conclusão do artigo A dor, velho tema, de Francisco de Paula, do Centro de Cultura Humberto de Campos, começando na página 13. Na área musical, notícia do sucesso da valsa noite enluarada, de Joaquim de Almeida.

Estampa a Revista Cidade contos de Gasparino da Mata, Agenor Raposo, poemas de Ed. J. Filho, Firmo de Santana, José Cincinato. Numa página inteira, Ruber van der Linden discorre sobre o resfriado, essa doença banal. Com muita percuciência, o cientista e escritor ainda hoje bem conhecido derruba mitos do vírus da gripe e aconselha a respeito, sabiamente.

Anúncio de página inteira com programa do 35ª aniversário do Grêmio Cultural Ruber van der Linden, com palestras de Humberto de Morais, Maria José Duarte, Nelson Siqueira, Ivete de Morais Cintra e exposição de vários pintores, entre os quais José Hildeberto Martins, Jáder Cysneiros e Ana Maria Valença de Lucena. Página de cinema anunciava o Direito de Pecar, com César Ladeira (o espiquer nº 1 da América do Sul). E ressaltava que a direção técnica estava a  cargo de franceses, húngaros e tchecos fugidos da guerra. A de futebol dizia que  D'jalma Araújo, "fan de futebol, estava a organizar um conjunto  pebolístico com players garanhuenses", para formar um team em Recife. E que o Náutico iria se concentrar uma semana aqui. O editorialista Nilo Tavares dizia do anseio de progresso e que as ruas receberam a roupagem moderna, nova e brilhante dos  paralelepípedos, de última geração, e  estavam orgulhosos. Indo o passado rotineiro e marasmático se apagando. Era tudo retrato do entusiasmo progressista que se apossava de Garanhuns. (Texto de Osman Holanda e Vital C. de Araújo | Papel Jornal | Garanhuns, março de 2013).

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