sábado, 12 de agosto de 2023

Simôa Gomes

Busto de Simôa Gomes de Azevedo
Grandes Vultos de Garanhuns - As definições nem sempre revelam a origem das coisas naturais. Há sempre um lado oculto em tudo que se pretende definir. A aproximação nesse sentido não só depende do raciocínio mas, sobretudo de conhecimento especializado. A sua existência surge na superfície, isola-se de suas conexões ocultas e dos  elos intermediários. A compreensão do Universo e da natureza não pode ser  simples, pois o objeto dessa compreensão é extremamente complexo. Encará-lo através das ciências equivale a vê-lo apenas em sua experiência exterior: realidade, física. Assim a terra se torna fonte de renda fundiária ou seja  do capital que por si mesmo é fonte de lucro. E o trabalho de salário. A expansão das grandes faixas de terras gera o latifúndio desumano e estéril. Nessa forma distorcida em que  se expressa a inversão efetiva se encontra reproduzida na  representação dos agentes deste modo de produção. Para os estudantes do assunto - este é um modo de ficção sem fantasia de uma crença na religião do vulgar. Os economistas que devem ser diferenciados dos pesquisadores, traduzem em linguagem doutrinária, do ponto de vista da facção dominante dos capitalistas. E por isso, de uma  maneira ingênua e objetiva - mas apologética. Assim no tempo de servidão humana - quando se roubava um escravo, roubava diretamente um instrumento de produção. O dinheiro pode existir e existiu historicamente, antes que existisse o capital, antes que existissem os bancos e o trabalho assalariado. O capital é a potência econômica da sociedade burguesa que domina. Como todo sistema depende muito da inteligência e da  conduta generosa e humana, muitas coisas se modificam para o melhor. Na  época ainda não se cogitava de ideias socialistas e muito menos da socialização da gleba. As doações eram atos generosos das donatárias de terra. Era uma reação do sentimento telúrico contra o desportismo dos cruéis. Assim o seio da terra virgem precisava ser fonte de valores humanos. Precisava ordenas poderes locais, territoriais, urbanos e provinciais. Surgem então sítios, povoações, vilas, distritos e por fim a cidade. As pessoas responsáveis por estes acontecimentos: são criaturas humanas que deveriam viver muitas gerações em uma só vida. Seus gestos dignificam a sua espécie.

Simôa Gomes de Azevedo, nasceu da terra virgem e fecunda da cidade hoje Centenária. Foi sua  fundadora e merece ser homenageada com  muito carinho humano. Louvores merece também o gesto patriótico do nosso conterrâneo: Amílcar da Mota Valença, quando prefeito de Garanhuns, mandou fazer galerias, calçamento e jardins, na Avenida Simôa Gomes, tornando-a uma das mais belas da cidade, perpetuando assim a memória de uma grande alma destinada aos grandes feitos.

Sugerimos que os nossos educandários deveriam ministrar aulas sobre a vida de Simôa Gomes. Preleções sobre essa mulher admirável que se imortalizou, entre nós. Os documentos de libertação de escravos e da doação de uma  grande parte de suas terras ao patrimônio das Almas atestam a sua  caridade, seu desprendimento e a  sua fé nos destinos gloriosos que nos serviu de berço. "Não pediu missa para si e nem para o seu  esposo. Mas - num gesto de generosidade pediu para as almas de todos os  que tiveram a ventura de nascer na terra do Magano. Data de 1755 a escritura da doação que fez ao patrimônio das almas, precioso documento que  pertence à Diocese de Garanhuns. Ao fazê-lo residia Simôa Gomes de Azevedo, num recanto poético, hoje Brejo das Flores. Em alguns reparos desse precioso documento diz: "Escritura de doação e ratificação d'ella, que faz Simôa Gomes de Azevedo, viúva que ficou do coronel Manoel Ferreira de Azevedo, a Confraria das Almas da Matriz de Garanhuns, desta freguezia do Sertão de Ararobá." "Saibam quanto este público instrumento de doação e  ratificação d'ella virem, que sendo no ano do Nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo de mil setecentos e cinquenta e seis anos, aos quinze dias do mês de Maio do dito ano neste sítio da cruz, termo do sertão de Ararobá." E  mais adiante diz "que ela  era senhora possuidora de um sítio de terras chamado o Garcia nos campos  de Garanhuns, o qual houvera por compra o defunto seu marido o dito Manoel Ferreira de Azevedo, e lhe tocara este de meiação no inventário e partilha que se tinham feito com seus filhos por morte do  dito marido, de que estava de mansa e pacífica posse, no qual Sítio fazia doação à Confraria das Almas da matriz de Garanhuns, dum pedaço de terra que medirá em quadra fazendo pião na Igreja matriz dos Garanhuns, dum pedaço, correndo para parte d'onde está a cruz das Almas." Este precioso documento é muito longo, basta que se diga que dessa doação de alma e de espírito da grande mulher que foi Simôa Gomes - nasceu a terra das flores.

Simôa Gomes de Azevedo, fundou com as bênçãos de Deus esse pedaço de céu caído na terra que a  nossa cidade do planalto, terra das Sete Colinas, que erguem para o alto como a desafiar o Infinito. É um dos Vultos da  nossa Cidade que em sua  homenagem eterna deveria se erigir um Monumento em sua Honra.

*Dr. José Francisco de Souza / Advogado, cronista, jornalista e historiador / Garanhuns, 10 de fevereiro de 1979.

Foto: Busto de Simôa Gomes de Azevedo.

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