terça-feira, 1 de agosto de 2023

Os cidadãos de Garanhuns durante a Revolução de 1930

Tiro de Guerra 45 no Parque Euclides Dourado antes da partida para Maceió, em outubro de 1930 - Primeiro Plano: Mário Lyra, José Gaspar, Dr. Ivo Júnior, Tenente Amâncio Nunes - No Segundo Plano: Dr. Eurico P. Lira e Josafá Pereira

Estamos concluindo o nosso livro ao tempo das comemorações dos 50 anos da Revolução de 1930, quando em artigos e interpretações, as  mais variadas, se procura tirar daquele movimento, o seu sentido muito mais popular que militar.

Era ainda moço ao tempo da revolução de 1930, porém, os  comentários da época, notadamente, de próceres revolucionários locais e dos políticos então dominantes, afirmavam que o Movimento Revolucionário de 30 foi, sem dúvida alguma, cimentada pelos ideias libertários defendidos pelos integrantes da Aliança Liberal, na voz dos seus mais  autênticos líderes, tais como João Neves da Fontoura, Batista Luzardo, Maurício Cardoso, Lindolfo Collor (todos estes gaúchos). Carlos de Lima Cavalcanti, à frente dos seus jornais, os "Diários da Manhã", da "Tarde" e da "Noite", foi incontestavelmente, o líder civil revolucionário em Pernambuco, levando ao Nordeste pela sua imprensa, o programa da Aliança Liberal.

Seria difícil negar à própria história, da Revolução a influência dos movimentos de 22 a 24, e a projeção dos seus líderes militares, tais como Luís Carlos Prestes, Cordeiro de Farias, Siqueira Campos, João Alberto, Eduardo Gomes e Juarez Távora, e mais tarde, os chamados "Tenentes da Revolução", como Juracy Magalhães e outros.

No entanto, em Pernambuco, como também em outros Estados, a  Revolução de 1930, foi realmente um movimento de lideranças civis, mais que militares.

Aos primeiros revezes, quando o 21 B.C. respondeu ao ataque dos  integrantes do Tiro de Guerra 333 à Rua do Hospício, a Revolução passou a ser feita pelos integrantes da chamada "Linha Azul", composta de  motorneiros e operários da Pernambuco Tramways e pelos populares armados na Soledade, após a tomada do quartel, por Muniz de farias, George Latache e outros, interceptando os bondes que desciam do subúrbio para o centro, na praça da Soledade e em João de Barros.

Temos falado em outros capítulos desta memória, sobre a atuação dos Revolucionários de Garanhuns e o entusiasmo que se seguiu após o  início do movimento no Recife, culminando com a organização da "Coluna Louca", que invadiu o Estado das Alagoas, sob o comando do civil Mário Sarmento pereira Lira, comissionado no posto de Capitão Revolucionário, pelo Gal. Juarez Távora, um dos chefes militares da  Revolução de 1930.

A "Coluna Louca", organizada inicialmente com os integrantes do  Tiro de Guerra 45, aumentou o seu efetivo, após a proclamação de alistamento feito pela Junta Militar Revolucionária de Garanhuns, composta por Mário Lyra, José Gaspar e Fausto Lemos.

Recentemente, "O Monitor", edição de 11 de outubro de 1980, publica uma entrevista realizada por Nelson Paes, onde, ouvindo a Jayme Luna, um dos integrantes da "Coluna Mário Lira", depois chamada de "Coluna Louca", o entrevistado narra a partida do primeiro contingente para as Alagoas, em caminhões e carros particulares requisitados pelo Comando Revolucionário, que se compunha entre outros, das seguintes pessoas: Mário Sarmento Pereira de Lyra, advogado Sátiro Ivo Júnior, médico Eurico Pontes de Lyra, 1º Sargento do Exército Amâncio Nunes da Silva, Sargentos do Destacamento de Garanhuns, Veríssimo e João Ramalho dos Santos, Sargento Instrutor da Escola Correcional de Menores Epaminondas; soldado-corneteiro da mesma Escola, cujo nome ignoro, mas tratava-se de um policial-militar; Josafá Pereira; Osmário Sarmento Pontes, Antônio Sarmento Pontes (Antônio Lyra), Aloisio Gomes Cabral, Antero Wanderley, Lourival Wanderley, (Lourinho), Pedro Firmino, Napoleão Leitão, Jorge Martins, José Belarmino dos Santos, (José Belarmino), Jorge de Oliveira Santos (Jorge Preto), Antonio Ramalho dos Santos, Lourival Jatobá, Manoel Vieira dos Anjos, Carlos Tenório Vila Nova, Acácio Luna, Milton Maciel, Adalberto Aragão, Antonio Alves Vilela, Francisco Ferreira da Costa (Tico Marinheiro), Laiete Rezende, Isnard Souza, Abel Pantaleão, Arlindo Marques, Júlio Costa, Waldemiro Café, José Mota da Silva Rosa, Tirso Ivo, Israel Lyra, Agenor Morais, Tiago Veloso, Dermeval Matos, dentista Mário Matos, João Leite Cavalcanti (Jota Leite), José Paulo de Miranda, Aristóteles Valença, Francisco de Assis Pessoa, Euclides Mendes, Leopoldo Leite Cavalcanti, Luiz Pereira Júnior (Júnior), Hemetério Correia, Carlos Ribeiro da Silva (Carlos Bomba), José Ferreira de Melo (José Carroceiro), Olímpio Noronha, João Brasil (João Pirão), Luiz Montanha, Antônio Correia de Melo (Antonio Duque), Hermilo Costa, Renato Lins, José Gaspar da Silva, Júlio Cordeiro Wanderley (Júlio Beira Branca), Alfredo Barbosa de  Queiroz, Gerson de Souza Lima, Siloé Passos, Artur de Chico Vitor, Milton Vieira, José Torres, Antonio Pereira, João Elísio Pedrosa, Vicente Pinheiro, Oscar Leite Cavalcanti, João Ferreira Caldas (João de Francino), Maurício Amorim, Ozéas Rodrigues da Rocha, José Veríssimo (Douto), José Monte (Zeca Monte), Sebastião Quintino, José Roque, Walter de Melo (Filinho da Mamãe), Antonio Bastos Carneiro (Carneiro), José Matias, Orlando Campos e outros.

É de ver, que a participação efetiva dos garanhuenses no Movimento de 30, era uma decorrência do trabalho realizado pelas lideranças revolucionárias da Aliança Liberal, em nossa cidade. Manifestações anteriores, demonstravam o clima revolucionário existente, quando das missas fúnebres de Siqueira Campos e João Pessoa, transformados em comícios políticos onde eram exaltados os líderes da Aliança Liberal.

Muito pouco foram os choques ou atritos entre os perrepistas e os  aliancistas em Garanhuns. Apenas, um fato se revestiu de certa importância, quando do comício de "caravana da Aliança Liberal", em frente ao  Hotel Mota. Na ocasião em que falava Batista Luzardo ocorreu tumulto com disparos de revólveres, feitos pelos políticos dominantes, tendo a manifestação, terminado em "corre-corre", pelas ruas próximas à Praça Dom Moura.

O fato foi comentado com estardalhaço pela imprensa da capital, notadamente, os jornais da família Lima Cavalcanti.

Luis Alberto Luzardo, filho de Batista Luzardo, em entrevista a  Glauco Carneiro, no livro "Luzardo, o último caudilho", 1º volume, página 246, informa também o ocorrido, e exaltando a Campanha da Aliança Liberal, focaliza a ação dos civis no Rio Grande do Sul, na Campanha da  Revolução de 1930.

É ainda, Glauco Carneiro, no 2º volume do mesmo livro, página 106, citando Virgílio de Melo Franco, no seu trabalho "Outubro de  1930", chamado de livro básico sobre a Revolução Liberal, quem destaca a atuação de Luzardo, no Movimento Revolucionário e a reunião em que foi marcada do dia da Revolução. Apenas um militar estava presente, o pernambucano João Alberto Lins de Barros. O trecho é o seguinte:

"Retornando um pouco, vemos que Siqueira Campos e João Alberto, às instâncias de alguns políticos mais chegados (Virgílio principalmente), tinham viajado para Buenos Aires, a fim de sondar Luís Carlos Prestes sobre a sua apregoada adesão ao comunismo. O antigo "Cavaleiro da Esperança" confirmou os boatos em reunião havida em Buenos Aires, a 7 de maio. Siqueira pediu-lhe que retardasse um pouco sua manifestação pública enquanto ele e João Alberto retornavam ao Brasil. Diante de Montevidéu, o avião em que viajavam - Laté 28 - caiu no Rio da Prata. Siqueira, vítima de ataque cardíaco, pereceu afogado e João Alberto salvou-se. O desalento que sua morte trouxe - ele era uma das figuras fascinantes, senão a maior, dos "tenentes" -, bem como a doença de Luzardo e a divulgação do manifesto de Prestes puseram a conspiração em compasso de espera.

A revolução estava marcada para 24 de junho mais não saiu. Vinte e oito de julho passou a ser dia "D" e aí quase estoura de vez: três dias antes, João Pessoa era assassinado no Recife, provocando verdadeira comoção nacional. Agosto e setembro decorreram, porém, sem que a revolução saísse até que, a 25 desse último mês, em reunião de que participaram Oswaldo Aranha, João Alberto, Maurício Cardoso, Lindolfo Collor e Virgílio de Melo Franco, acertou-se a data definitiva: 3 de outubro.

Realmente, às 16h55m, o quartel-general da região militar gaúcha foi atacado, dando início ao grande movimento. No dia seguinte um manifesto de Getúlio Vargas frisava: "Não foi em vão que o nosso Estado realizou o milagre da União Sagrada. É preciso que cada um dos seus filhos seja um soldado da grande causa. O Rio Grande do Sul, de pé pelo Brasil. Não poderá falhar o seu destino histórico". A revolução ganhou as ruas e durante vinte dias abalou o Brasil, derrubando uma a uma, todas as fortalezas governistas para terminar colocando Getúlio Dornelas Vargas, no Catete e Washington Luís e Júlio Prestes no exílio".

Por todos estes fatos, não foi sem motivo que os "Civis" de Garanhuns, fizeram materialmente a Revolução de 1930, representando o "povo", na sua maior expressão.

Fonte: Garanhuns do Meu Tempo | Alfredo Vieira | Ano 1981. Acervo: Memorial Ulisses Viana de Barros Neto.

Foto: Tiro de Guerra 45 no Parque Euclides Dourado antes da partida para Maceió, em outubro de 1930 - Primeiro Plano: Mário Lyra, José Gaspar, Dr. Ivo Júnior, Tenente Amâncio Nunes - No Segundo Plano: Dr. Eurico P. Lira e Josafá Pereira.

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