terça-feira, 1 de agosto de 2023

Gabriel Narciso de Souza


Dr. José Francisco de Souza* | Garanhuns, 13 de janeiro de 1979

A nossa recondução à vida material é temática fundamental dos estudiosos das Obras Codificadas. Precisamos palmilhar caminhos diferentes. Sentir dentro de nós, a força de um mundo maior. Em que nova dimensão das coisas nos proporciona uma visão panorâmica de tudo quando imaginamos. Na  adolescência o círculo se alarga e as nossas pretensões aumentam. Alargamos com as nossas próprias mãos o nosso horizonte como se fossemos um jovem grego coroado de louros e vitórias. Na maturidade as nossas mãos se transformam em garras e nos julgamos capazes de escalar as montanhas azuis, para dominar distâncias invisíveis. Só nas proximidades de velhice começamos a reconhecer que as forças nos  faltam. O nosso dever, portanto, é superar essa redução apoiados na experiência passada e no saber adquirido. Nesse estado de espírito as ilusões já alcançaram o final da sinfonia de seus sonhos. É nessa fase que a recordação torna-se mais forte. Então os nossos olhos brilham mais com atenção, que nos acolhe em cada esquina da vida. Já não nos encanta o desfile de homens e mulheres na passarela do mundo. Tudo é simplesmente um cortejo trivial. De onde  vem esse sentimento de importância pessoal no horizonte cinzento do crepúsculo? A resposta é dada por nós mesmos, nos momentos em que o nosso pensamento se purifica. Nas horas do silêncio profundo em que começamos a escutar o prelúdio de uma  música ao longe. De uma orquestra em que o nosso cérebro se transforma em harmonia de um violino a tocar. Pelo poder inefável da imanência crística a nossa inteligência revela que: o homem é espírito que se projeta num corpo animal e dele se serve para a viagem existencial. Nessa consciência de relação, estrutura mental do imediato, pode manter-se perplexa ante o mistério da vida, mas a consciência profunda, registro milenar das experiências evolutivas, guarda o segredo da imortalidade do SER. A intuição sublime da nossa natureza espiritual é o que sustenta a nossa fé na invulnerabilidade no nosso existir. Essa conotação nos indica algo diferente. Como se a nossa vida fosse pura, como se não houvesse luz e sombra. Contudo, poderemos purificá-la pelo amor à família. A serenidade persiste no coração do homem que sabe estudar a psicologia dos encontros. Nesta vida nós nunca nos encontramos pela primeira vez com outra pessoa. Devemos honrar a memória de nossos pais e irmãos.

GABRIEL NARCISO DE SOUZA - primogênito dos filhos do casal Clementino Ricardo de Souza e Serafina Francisca de Souza Fontes, consequentemente irmão mais velho desse colunista (José Francisco de Souza). Veio ao mundo  no ano de 1900. Era de compleição física não muito robusto. Foi aluno do professor e poeta Arthur Maia.

Cedo iniciou sua vida pública na arte gráfica. A sua adolescência foi pontilhada de responsabilidade. Trabalho no "Sertão" jornal que circulou por muitos anos. E também no "Norte Evangélico" e  por fim nas oficinas do  velho e saudoso Dario da Silva Rêgo. Compondo e paginando trabalhos dos mais categorizados intelectuais do seu tempo, aprendeu a escrever em bom estilo. No conceito de seus amigos era um jovem estudioso. Fôra seu professor de letras um dos  mais ilustres da época, Arthur Maia. Muito retraído, seu comportamento psicológico era  de um introspectivo. Contudo, era bom palestrador. A sua conversa agradável era pontilhada de certa ironia. Gostava de literatura e lia  os escritos clássicos. Estava em dias com os conhecimentos filosóficos. Poeta de rara inspiração. Não muito inclinado ao domínio da escola parnasa. Gostava do verso livre para que  o poeta pudesse criar no Eterno. Começou escrevendo para os jornais. Dado a sua modéstia, os seus trabalhos ficaram esparsos. Éramos ainda muito afastados das lides jornalísticas motivo pelo qual não conseguimos catalogar os seus escritos e produções poéticas. Foi amigo de infância do nosso querido amigo, José Rodrigues da Silva (Batatinha). Ao lado de  Abdisio Vespasiano, um dos diretores intelectuais do "Álbum do Município de Garanhuns", lutou pela imprensa livre da nossa terra. Quando a "dama branca começou abraçá-lo" não o fez como Manuel Bandeira, deixou de trabalhar para os jornais de  sua cidade. Seus últimos dias de vida passou como auxiliar de escrita de empório comercial do Sr. João Machado que fôra posteriormente o nosso padrinho de Crisma. No ano de 1918 veio a falecer no seio da nossa família. Foi a primeira vez que assistimos alguém da nossa família morrer. Meus olhos de menino ficaram mortos como olhos de retrato. Sentimos que não há muita diferença de um corpo morto para um corpo vivo. Só de posição e de imobilidade que nos priva de sua presença física na casa em que nascemos. E nada mais. O seu sepultamento foi bem concorrido revelando  assim sua estima social.

GABRIEL NARCISO DE SOUZA - jornalista, poeta e literato. Nasceu aqui na rua 15 de Novembro. Lutou e contribuiu para  que a nossa Garanhuns  tivesse uma imprensa livre. Foi contemporâneo do grande poeta Gumercindo de Abreu e de Elesbão de Araújo. Viveu pouco e trabalhou muito. E num dia assim... de um sol assim", fechou os olhos para este mundo. Lá da vida espiritual ele acompanha com os sentidos da alma a luta de seu  mano aqui na terra dos  bonitos arrebóis. É pois um dos vultos da nossa cidade, cuja memória merece respeito, sobretudo, porque foi garanhuense de quatro costados.

P. S. - Saudades lábios trêmulos de minha mãe - que de mãos postas murmurava uma prece - com os olhos fitos no azul dos céus.

*Advogado, jornalista, historiador e cronista.

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