No sítio, o meu, era tanto caju, que dava para todo mundo. Dava, também para animais e pássaros se deliciarem à vontade. As castanhas, jogadas pelo chão, porque só prestavam depois, secas e torradas com muito fogo. Deixadas sempre para depois, como se guarda o que é bom. Os caminhos curtos, por onde se ia por pouco tempo, para obter ou fazer o que era bom. Isto no tempo em que se mastigava o caju suculento e doce e se jogava a castanha no chão. E o que se queria, alcançava-se perto, as castanhas, depois. O tempo estava perto. A água, os pés de caju, a casinha de minha avó. Ela me dava jerimum com leite. Os maracujás verdes para dizer que eram bois, e brincar... Perto. As castanhas também.
Ah o caminho da vizinhança, como era boa a vizinhança no sítio. João Grande, que fazia novenas; Antônio Rocha, marcador de quadrilhas; Tintino, que sempre aparecia com saco seco, pedindo feijão, farinha, para comer com os filhos. Rochinha, que vinha para o almoço. Buchada de bode. Tantos vizinhos. A vida, de brincadeiras improvisando coisas, sabugos transformados em animais, talos de capim em arames farpados, uma vara seca um cavalo... A vida no sítio, tempo de menino. Mas tudo mudou, e as castanhas se foram.
*João Marques dos Santos, natural de Garanhuns, onde sempre residiu, é poeta, contista, cronista e compositor. Teve diversas funções nas atividades culturais da cidade: foi Presidente da Academia de Letras de Garanhuns, durante 18 anos, Diretor de Cultura do Município e, atualmente, é presidente da Academia dos Amigos de Garanhuns - AMIGA. Compôs, letra e música, o Hino de Garanhuns. Mantém, desde 1995, o jornal de cultura O Século. Publicou quatro livros de poesia: Temas de Garanhuns, Partições do Silêncio, Messes do azul e Barro.
Créditos da foto: Anchieta Gueiros.
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