terça-feira, 15 de agosto de 2023

Mestre Inesquecível

Marcílio Reinaux
Marcílio Reinaux 

Em certa ocasião na década de 1990 escrevi o livro: "Garanhuns, a enevoado pérola fugidia", no qual descrevo a nossa querida cidade das colinas verdejantes e traço perfis de alguns vultos importantes, que pontificaram com trabalho e com suas vidas, verdadeiras tressituras de honradez e caráter doados a Garanhuns. Lá está, no referido livro, um depoimento que escrevi sobre essa figura impoluta de educador exponencial que Garanhuns, da região Agreste, Pernambuco e outros mundos da cultura brasileira, muito devem ao Padre Adelmar da Mota Valença.

O mestre de Garanhuns, assim o chamei em certa ocasião, o mestre de todos nós, o professor, orienta e por fim o educado de grande estatura, esteve bem presente junto a gerações de tantos quantos tiveram o privilégio de vivenciar a juventude da escolaridade, por entre as vetustas paredes do "Gigante da Praça da Bandeira".

O Padre Adelmar soube construir com as suas mensagens de verdadeiras aulas de cidadania, a "estupenda vitória" do bem sobre o mal, mostrando por antecipação as curvas dos nossos destinos, pelos ínvios caminhos da vida, na luta pela conquista e por uma existência digna e honrada. Ali nesse cadinho de cultura e saber que foi e é o Ginásio, que  ele tanto amou, é e tem sido mais um lugar "onde o lutar é  vencer" e não simplesmente e só um educandário.

Diríamos como sendo nossas as palavras do ex-aluno Aleixo Leite Filho escrevendo certa vez em artigo intitulado "Padrão de Glória", publicado no Jornal das Letras (Rio de Janeiro - 1980), referindo-se ao Padre Adelmar. Assim diz aquele colega ginasiano: "Sei de mim, que nem morto e  triturado, não pagaria jamais o favor que recebi na minha formação moral de adolescente os ensinamentos e exemplos de dignidade daquele homem simples que sabia infundir respeito as coisas sérias e brandir a arma da vergonha contra a corrupção e a falsidade, a hipocrisia, e sobretudo, a falta de  fé nos verdadeiros postulados cristãos."

Para mim, também, tenho este mesmo sentimento de gratidão e entendo que jamais se forjará homem da têmpera do Padre Adelmar na História de Garanhuns, Pelo menos dentre tantos que conheci de várias gerações, não encontrei similar. O ferrete de suas frases célebres de profundo conteúdo e conhecimento sócio-psicológico, criou em mim, sulcos inalienáveis na formação de minha personalidade. Dele eu percebi sempre a premissa de vida de que o ensino e a  instrução sempre deviam estar calcados nos fundamentos da moral e da dignidade do homem. Sua vida espelhava ética em todas as suas nuances, como uma auréola de resplendor. Nos simples gestos, na fala mansa e forte ao mesmo tempo, nos cumprimentos e ou admoestações, nas atitudes de qualquer matiz, nas decisões, no raro sorriso e até no cenho franzido, pontificava em tudo do padre, uma visão da sua personalidade emoldurada pela ética.

Nele, enquanto educador, predomina o entendimento de que primeiro é melhor moldar o jovem adolescente com um comportamento moralmente correto, e depois sim, ou até paralelamente conceder-lhe o conhecimento das letras. A cultura e o conhecimento, aos poucos - para ele - iam sendo acumulados na base da moral pré-estabelecido ao jovem estudante. Assim ele o fez em  toda sua vida de mestre-escola.

Destarte para mim, o então Ginásio Diocesano e o Padre Adelmar foram não só apenas o educandário, ou a simples escola. Foi sim, o "Templo Sagrado de Luz e Saber" do qual nos fala o seu ninho de profunda significação e conteúdo saído da pena de outro tão importante religioso, o Monsenhor Godoi. E o padre, para mim não foi só o educador, professor, instrutor, orientador, mentor, mestre da cultura e do saber. Amigo e irmão, solidário. Foi muito mais que tudo isso. Foi o artista que amalgamou a minha personalidade, fazendo-me homem de bem de caráter sem jaça, o que  só me orgulha e envaidece das minhas origens.

O Padre e o Ginásio Diocesano, irmanados, dois são uma só instituição, impregnados na historiografia de Garanhuns, ficarão sempre para os pósteros. Ficará sempre para mim sua lembrança. Assim particularmente a figura do padre e distinção que teve para comigo, pelos cascudos dados, puxões de orelha que recebi, fica o meu preito de gratidão por moldar a alegria, pelo centenário da vida de quem se foi e que deixa sempre um gesto gratulatório em mim e em miríades de seus alunos.

A propósito desta efeméride de um século, sumamente importante para a história de Garanhuns, certa vez há poucos anos, na condição de heraldista do Instituto Heráldico Americano, me ofereci para criar e produziu o "Colar do Mérito de Monsenhor Adelmar da Mota Valença." O diretor do Ginásio, a quem ofereci os préstimos, desconversou e recusou a honraria que já àquela época fazia-se necessária. Mais ainda agora, entendemos que se faz  imperativo. O Colar do Mérito proposto não seria singela condecoração. Mas seria a maior insígnia e honraria de Garanhuns em reconhecimento do mérito do filho ilustre. Uma distinção:

"Ad - Perpetuan - Rei - Memoriam".

*Escritor, jornalista, pintor e ex-aluno do Padre Adelmar.

Fonte: Monsenhor Adelmar da Mota Valença - Vida e Obra / Centenário de Nascimento 1908 - 2008 / Coordenação das Irmãs: Cândida Araújo Corrêa e Maria Mirtes de Araújo Corrêa. 

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