sábado, 12 de agosto de 2023

Dois dedos de prosa com Edilene Cordelista


EDILENE CORDELISTA É A ENTREVISTADA DO PROFESSOR CLÁUDIO GONÇALVES DESTA SEMANA

1) Mestra Edilene Soares me conte sobre a cidade que você nasceu e algumas histórias da sua infância?

Ano de setenta e seis

Para meus pais foi o dia

Que nascia lá em casa

Aquela que gostaria

De transformar sua vida

E disso ninguém duvida

Através da poesia.


Foi na Fazenda Água Branca

O lugar onde nasci

E desde ainda criança

Que muito cedo aprendi

Valorizar a cultura 

E também literatura

Com esse valor cresci.


Por nascer numa fazenda

Na natureza me acho

O meu sofá era um banco

O lavador o riacho

Mas, eu tinha de fartura.

Comida amor e cultura

Igual banana no cacho.


O meu primeiro brinquedo

Jamais irei esquecer

Uma boneca de milho

Para poder me entreter

O meu pai agricultor

O melhor milho plantou

Imagine o seu prazer.


É com orgulho que falo

Minha naturalidade

Angelim terra querida

Antes de ser uma cidade

Foi vila, foi povoado.

 Um lugar valorizado.

Essa que é a verdade.


Dos primeiros habitantes                

O senhor Joaquim Salgado

Morava no Sítio Broca

Tinha uma fazenda de gado

Não pense que demorou

População aumentou

Surgindo o aglomerado.


Esse nome de Angelim

Que denomina a cidade

Surgindo de uma árvore

Naquela localidade

Chamada de Angelim

Seu nome ficou assim

Com originalidade.


Feliz! Por ser de Angelim

Pelo desenvolvimento

Rica na sua beleza 

Também em conhecimento

Sempre tem evoluído.

Assim o povo tem crescido

Todos estão a contento. 


2) Como surgiu a literatura na sua vida?  


Eu tinha pouca idade

E conheci a leitura

O meu pai um homem simples

Mostrou-me a literatura

Não precisou ser letrado

Nem tampouco diplomado

Pra dar valor pra cultura.


O meu pai muitos cordéis

Nas feiras sempre comprava

Nas feiras, tinha cultura.

O repentista tocava

Papai ao chegar em casa

Junto ao cordel dava asa.

Eu com prazer recitava.


Desta forma, que aprendi.

A gostar de poesia

Assim aprendi a ler

Eu não sei como seria

Ensinando e aprendendo.

Cada dia escrevendo

Retratando o dia-a-dia.


Escrevi muito cordel

Ao começar estudar

Por volta dos sete anos

Queria me apresentar

E fazia muitos versos

Cada dia mais diversos.

Para homenagear.


Fui deixando a poesia

Invadir meu universo

Cada lugar que passava

O que via virava verso

Eu lia muito cordel

Feito pelo menestrel

Com ele tive progresso


Assim também fui crescendo

Continuei a escrever

Eu fui me aprimorando

Sempre querendo aprender

Conteúdo transformava

E como facilitava

Quando a prova ia fazer. 


3) Considerada um dos destaques da nossa literatura de cordel, nos conte como se deu o primeiro contato com a literatura de cordel e um pouco da sua trajetória artística?


Minha trajetória na arte

Muitas vezes é confundida

Com a vida profissional

Pois sempre teve envolvida

Ambas se complementado

A minha arte doando

Como ponto de partida.


Trinta seis anos de história

De luta diariamente

Pra chegar até aqui

Não foi assim facilmente

Mas, Deus tem dado o retorno.

E a maioria ao entorno

E assim sucessivamente.


E são muitos os projetos

Que tenho desenvolvido

Parcerias importantes

Tenho assim adquirido

Sempre com deus no comando

Iremos continuando

Assim nós temos seguido.


Pois, sempre a nossa cultura

Quis para todos divulgar

Escrevi em poesia.

Comecei dialogar

Uns queriam conhecer

Outros assim reviver.

Isso me fez empolgar.


Escrevi vários folhetos

Botei debaixo do braço

Percorri várias escolas

Recebi um forte abraço

Seja de carro ou a pé

Fiz calo criei chulé

E foi cada dia um passo.


Resolvi num só PROJETO

Poesias Reunir

Cordel veio te visitar

Todos podem conferir

Os cordéis tenho doado

Vidas também transformado

E só faz evoluir


Tenho diversos trabalhos

Que Já foram publicados

Várias oportunidades

Já foram bem aclamados

Divulguei na região

Fazendo a divulgação

Também em outros estados.


E nas redes sociais

Meu trabalho é divulgado

No Brasil e fora dele

Nosso cordel tem chegado

Seja no rádio ou TV

Tem sido grande prazer

Poder cumprir meu legado


Uma página no facebook

A cenário nordestino

Da cultura nordestina

Tem sido sempre o destino

Nela alcançamos milhões

Gente e visualizações

Só com um vídeo de um agrestino.


Pois a minha trajetória

Tem sido outro mostrar

Nossa terra, nossa gente.

Vou sempre evidenciar

Do poeta ao agricultor

Vai comigo aonde vou

Todos podem comprovar.


Pois sempre onde passei

Que tive a oportunidade

Seja no rádio ou TV

Eu dei notoriedade

Artistas da região

E de Garanhuns então

Essa que é a verdade.


Trabalhei numa TV

Só pra arte divulgar

Trabalhei também no rádio

A cultura dei lugar

Dei palestra e oficina

Fiz da cultura uma mina

Assim irei continuar.


Dia e noite versejando

Sobre a alma nordestina

Divulgar nossa cultura

É um sonho de menina

Hoje chego à conclusão

E ninguém duvida não

É esta é mesmo a minha sina...


4) Tem alguma técnica para a produção dos cordéis? Como é o seu processo inspiração para desenvolver um cordel?


Sempre usei a estratégia

De ler tudo intensamente

Métrica rima e oração

Permeavam minha mente

E procurando aprender

De a melhor forma fazer

Isso assim constantemente.


Em tudo tem poesia

Pra vida facilitar

Seja no campo ou cidade

Ela vem-me apetitar

Chovendo ou fazendo sol

Poesia é meu lençol

Pode nisto acreditar.


5) Quais as temáticas que você gosta de abordar em seus cordéis?


Abordo todos os temas

Do antigo a realidade

Educação ou social

Indo do campo á cidade

Uma folha que cai no chão

Torna-se uma inspiração

Essa que é a verdade.


6) Quais poetas influenciaram o seu estilo literário? 


Leandro Gomes de Barros

Pai do cordel Brasileiro

Patativa do Assaré

Da poesia um celeiro

E de Garanhuns Gonzaga

Que a nossa cultura propaga

É nosso mestre e guerreiro


7) Qual o papel do cordel na afirmação da Cultura Popular?


A nossa literatura

Na cultura popular

Tem sido muito importante

É preciso destacar

E desde antiguidade

A sua diversidade

Vem pra isso comprovar


Também já considerado

Nosso jornal do sertão

Retratando para o mundo

Nossa melhor tradição

Patrimônio cultural

Também imaterial

Vejo uma transformação.


8) Atualmente, como você avaliar a divulgação da literatura de cordel no Brasil?


Sobretudo no Nordeste

Vejo ampla divulgação

Não só folhetos, mais livros.

Também apresentação

Principalmente em escolas

Tem havido uma expansão.


Temos grandes cordelistas 

Por esse Brasil afora

Isso me deixa feliz

Pois já vem desde outrora

E eu vejo que a cada dia 

A nossa cultura aflora.


9) Você tem o título de mestra cordelista. Como um artista do seu gênero literário alcança essa honraria? 


Gonzaga de Garanhuns

Grande Mestre da Cultura

Pioneiro na região

Em fazer literatura

Conferiu-me a honraria

Elevando a poesia

Espero está essa altura.


Foi de Mestra do Cordel

Que o mestre me conferiu

Esse título importante

Nossa cultura aderiu

Com certeza o meu trabalho

Cada dia mais floriu.


10) Além da literatura de cordel, sabemos que você faz outros trabalhos artísticos com a mesma desenvoltura, pode citar alguns?


Sou amante da cultura

Sobretudo á popular

Eu encontro no cordel

Uma forma de juntar

Todas as formas de arte

Para poder divulgar.


Assim vou contando histórias 

A cultura apresentando

Seja na TV ou rádio

Ou mesmo interpretando

Nas palestras e oficinas

Eu vou assim divulgando.


11) Qual a sua principal motivação artística? 


Como já falei há pouco

Meu pai foi o principal

Seu incentivo e amor

Foi também fundamental

Mas, tudo que me rodeia.

Sempre é motivacional.


12) Como está a literatura de cordel em Garanhuns e região?


Garanhuns e região.

Um pouco tem avançado

Principalmente em escolas

O cordel tem propagado

Mas, peca na produção.

Da sistematização

Deve ser incentivado.


13) Você poderia citar outros escritores cordelistas que você admira?


São tantos os escritores

Que sou admiradora

Existe muita gente boa

Com certeza promissora

Nos versos do meu cordel

Destes sou propagadora.


14) Você faz um belíssimo trabalho nas escolas e na Biblioteca Luiz Brasil. Como você justificaria a importância da literatura de cordel nas instituições de ensino?


Foi na igreja e na escola

Onde tudo começou

Decidi ser professora

O alicerce se formou

Foi grande a aceitação

Do estudante ao professor.


Desde o tempo de estudante

Transformava em poesia

Os assuntos da escola

Mas, nunca imaginaria

Que fosse ter o respaldo 

Que estou tendo hoje em dia.


Meu sonho é cada vez mais

Ver esse trabalho crescer

Criança jovem e adulto

Fazer o cordel florescer

Educação e cultura

Sempre teve tudo a ver.


Já temos muitos poetas 

Que fazem esse trabalho

Esse é um meio eficaz

Não apenas um atalho

A cultura é uma planta

E cada um é seu galho


E é na educação

Que essa planta ramifica

E quanto mais se divulga

Mas, fortalecida fica.

Um daqui outro dali.

Juntando se fortifica.


Instituições de ensino

No currículo devem ter

Cordel como disciplina

Eu tenho um sonho de ver

A nossa identidade

Vai assim fortalecer.


Pois o cordel que retrata

As coisas da região

E muitas vezes nos livros

Nós não vemos isso não

Tem coisas do estrangeiro

De outro estado Brasileiro

Mas, do nosso estado não.


15) Fale um pouco da experiência do programa Forró e Poesia, o qual você participa com o talentoso Cicero Nascimento?


O forró e poesia

Com o Cícero Nascimento

Há três anos na labuta

Tem sido grande fomento

Lutamos diariamente

Juntos incansavelmente

Sem descansar um momento


Criamos esse projeto

Pra divulgar a cultura

No cenário musical

Também da literatura

E no Brasil e no mundo

Esse trabalho é fecundo

Temos tido uma abertura


Cada dia os ouvintes

Amigos tem se tornado

E por esse mundo afora

A cultura divulgado

Nosso principal retorno

Está bem representado


Precisamos mais de apoio

Quando o assunto é o financeiro

Alavancamos cultura

Usando o nosso dinheiro

Mas, nós temos a certeza

Que alguém usará presteza

A fé é nosso companheiro.


Já chegamos a lugares

Que jamais imaginava

No Brasil e fora dele

Sempre assim nos respaldava

É o começo da jornada

Sabemos que a caminhada

Muita coisa aguardava


Agora o nosso projeto

Já virou rádio e TV

Não somos só um projeto

Muita opção vamos ter

É o cenário nordestino

Da cultura o seu destino

Na WEB você ver.


16) Quais as instituições culturais que você participa atualmente?


Da academia de Letras

E arte internacional

Da UBE e de grupos 

Que a nível nacional

Tem sido muito importante

Na minha vida social.


Academia de cordel

Eu também já faço parte

Mesmo sendo virtual

Tem sido importante encarte

Pra divulgar e apoiar

Com certeza nossa arte.


17) Em 2017 você foi à homenageada da 3ª Bienal Internacional do Livro do Município de Garanhuns. Como foi esse momento marcante na sua carreira artística? 


A Bienal com certeza

Foi um marco importante

Mesmo depois de 03 anos

Brilha igual um diamante

Toda vez que me recordo

A gratidão sempre abordo

Isso foi determinante.


Foi uma inciativa

Que partiu da prefeitura

Através da educação

Valorizando a leitura

Grande reconhecimento

A minha arte deu fomento

Valorizando a cultura


A partir da Bienal

Muita coisa aconteceu

Foram muitas homenagens

Que sempre me enalteceu

Foi à luta de uma vida

Sendo assim reconhecida

Foi algo que transcendeu.


18) Poderia citar outras homenagens que recebeu ao longo de sua trajetória artística? O que você recomendaria para quem gostaria de se tornar um cordelista? 


O título de cidadã

Do poder legislativo

Cidade de Garanhuns

Que eu amo e que cativo

Senti-me lisonjeada

Foi muito valorativo


O título de cidadã

Cidade de Palmeirina

Onde morei muitos

E com esse título assina

Mais um reconhecimento

Esse projeto culmina


Escolas do Município

E também estadual

Meu trabalho reconhece

Tem sido fundamental

Pois tem me impulsionado

E me dado grande aval


E num projeto do SESC

Eu também fui contemplada

Ao lado de outros artistas

Senti-me lisonjeada

Também mais um incentivo

Pra continuar na jornada.


O FELICO foi uma delas

Na Escola Elvira Viana

Foi um grande festival

Que a nossa cultura emana

Escola toda envolvida

Um projeto bem bacana


De escolas particulares

Outras instituições

As diversas homenagens

Muitas contribuições

Salas de leitura afins

E órgãos de tradições.


A minha dica seria

Primeiro gostar de ler

Textos diversos ou rimado

E começar escrever

Não precisa ser cordel

Pode poesia ser.


Depois estudar as regras

Observando os autores

De cordel a outros gêneros

De diversos escritores

Estando sempre em contato

E atento alguns setores.


19) Gostaria de finalizar pedindo um mote de sua autoria para todos os seus admiradores. 


Ainda muito criança

Eu conheci a cultura

E não foi uma aventura

Nela eu tinha esperança 

Guardo isso na lembrança

Sem querer ser atrevida

Cultura deu-me guarida

Sempre foi indispensável

Cultura foi responsável

Por transformar minha vida.


20) Agradeço por conceder essa entrevista, foi um grande aprendizado. 


Agradeço imensamente

Essa oportunidade

Cláudio tem sido importante

Essa reciprocidade

São destaques da cultura

Também da literatura

Que tem legitimidade.

Professora, poetisa e mestre cordelista, Edilene Soares é natural de Angelim e cidadã de Garanhuense. Sua relação com os livros sempre foi intensa e o amor pela literatura de cordel nasceu na tenra idade. Uma trajetória literária de sucesso e dedicação à arte e a cultura popular. Nessa entrevista que a nossa mestre cordelista dedicou a Angelim pela passagem dos 89 anos de emancipação política, conhecemos sua trajetória artística, contada com toda sua maestria em literatura de cordel. 

*José Cláudio Gonçalves de Lima, Garanhuense, professor, Pós-graduado em História, Pesquisador, escritor e Sócio fundador do Instituto Histórico, Geográfico e Cultural de Garanhuns.

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