terça-feira, 15 de agosto de 2023

Centro Cultural de Garanhuns

Centro Cultural Alfredo Leite Cavalcanti na década de 1980

Discurso proferido pelo Dr. José Francisco de Souza, por ocasião de sua posse como Diretor do Centro Cultural de Garanhuns. (Sala da Biblioteca do Centro Cultural, em 31 de janeiro de 1974).

Aqui, neste local, em tempos idos fôra a Estação da Rede Ferroviária. A locomotiva deslizava sobre os trilhos vencendo lentamente as distâncias. Era o trem sempre esperando proporcionando encontros. Pessoas se revezavam trazendo consigo recordações, a imagem dos recantos mais pitorescos. Fisionomias sombrias marcadas pela ausência. Olhos úmidos de lágrimas, lenço branco acenando ao  longe - vontade doida de chorar. É o passado e o presente como ponte suspensa para o futuro. É um acontecimento social, transitório. Importante é a  investidura na função. Ser Diretor do "Centro Cultural de Garanhuns", além de um ato de confiança, é sobretudo uma tomada de posição em termos do bem público. O homem que participa da vida pública, exercendo cargo, deve ter consciência plena de que o cargo não lhe pertence. Indeclinável é a capacidade de seu titular em exercê-lo com dignidade.

Trata-se, como se vê, de um compromisso que reflete a atividade de um Espírito na tomada de consciência de si mesmo. E através desse bem cultural, e de atos constitutivos, que  os valores se revelam. Isto é óbvio a todo homem que  se orienta em termos de  bom senso e da razão. O razoável é algo do aprimoramento espiritual. A idade da razão é para muitos um pecado de inteligência que se nos apresenta imperdoável, quando a mediocridade tem força de decisão. Contudo, ninguém poderá viver isolado. Viver é bem relacionar-se, o joio vive ao lado do trigo até a época da ceifa. É um dos métodos dialéticos da natureza atuando entre dois polos. Estático e dinâmico. Os objetos do conhecimento o são em dois sentidos diferentes. Para identificá-los, o homem precisa ser  naturalmente educado. Educado nos bons hábitos que aprimoram a faculdade de escutar. Poucos sabem escutar e por isto o  mundo moderno é visto como um pandemônio, em  que a beleza perdeu seu  sentido. O Centro Cultural é um testemunho de  perenidade. Seu ritmo, por enquanto, não pode ser  apressado. O que  lhe  falta é uma sistemática. Uma perspectiva que o projete sobre o futuro como elemento decisivo de renovação e cultura. Sentimos isto logo aos primeiros contatos. Não havia estrutura, elementos básicos indispensáveis a um ordenamento diretivo. Tira-lhe imprescindível um processamento. Processo é o modo de  fazer marchar a ação segundo as formas prescritas em lei ou regulamentos. Essas providências foram tomadas com a criação do  Departamento de Teatro e sua comissão executiva com atribuições regulamentadas através de Portaria. Assim, foi o nosso primeiro passo de ordenamento diretivo, traçando normas e definindo responsabilidades.

Acompanhado pela  lisura e probidade administrativa, apresentamos ao  senhor prefeito - Amílcar da Mota Valença - uma exposição de motivos afim de se processar o levantamento Patrimonial do Centro Cultural de Garanhuns. Nesse esquema de ordem, o homem e o cargo é uma conotação de possibilidades. Como fazê-lo é um problema de entendimento. Porquanto o fato é  ponto de partida e para um auditório ilustre, não haverá o que se explicar. O homem educado já possui esse ponto de partida ou  pode adquiri-lo com facilidade. O bom senso não pode ser exclusivo de um sistema. Depende de um  trabalho de equipe e de um espírito de sacrifício. É um trabalho da inteligência, levando-se em conta o que a visão é para o corpo, a razão é para a alma, algo do pensamento intelectual. Entendemos que  o intelecto não é um  condicionamento do meio, nem consequência da infra ou supra instrutura, é sobretudo, um estado de Espírito. A capacidade de  criar no Eterno supera os  vícios do ambiente. O entendimento aproxima o  homem dos universais. Da  consciência cósmica, centelha de Deus no homem. O Centro Cultural é destinado a reunir e centralizar os valores artísticos, não  só do Teatro, uma das modalidades da cultura. Entendemos cultura como  conjunto de conhecimentos, da capacidade criadora, de  engenho e arte. Tudo isto no mais alto conceito é cultura. Entre nós valores existem. Tem faltado apenas, espírito de liderança para trazê-los em ambiente adequado. Entre o nosso corpo médico, há valores de grande teor cientifico. Os que  limitam ao  campo luminoso do Direito, pontificam verdadeiros ornamentos das letras jurídicas. Até, os que abraçaram a árdua carreira militar, a cultura intelectual, é hoje uma das mais  belas paisagens do espírito de disciplina e amor à  pátria. Tudo isto enriquecerá o patrimônio intelectual dos filhos da terra do  planalto.

Como ponto culminante temos três centros luminosos de formação moral e  intelectual de letras, ciência e Fé: Ginásio Diocesano, Santa Sofia e Colégio 15 de Novembro e ainda a  nossa Faculdade onde prontificam renomados mestres do saber. Tudo isto, a seu  turno, terá o seu dia, a  sua hora no "Centro Cultural de Garanhuns". Assim se nos apresenta justificável a ideia de fundarmos a nossa Academia Garanhuense de Letras. Os que se impressionam com a nomenclatura, acham o  título muito pomposo. Os de mentalidade possessiva preferem "letra de câmbio". Verdade é a nossa ideia encontrou receptividade na Imprensa de Pernambuco. Contudo, o mais  importante é que, a simplicidade é o ponto alto desse futuro cenáculo de  letras. Esperamos contar com todas as forças vivas da nossa cultura e com o  Governo Municipal afim de levarmos a bom termo esse empreendimento. Como Diretor do Centro Cultural, pretendemos um novo passo à inteligência dos filhos desse terra do Magano que se ergue para o  alto como desafiando o  infinito. Berço de poetas e literatos.

Terra dos nossos avós e que nos serviu de berço, e pela sua beleza natural - é uma espécie de lírio a se desabrochar a mais de mil metros de altura.

Foto: Garanhuns, PE - Centro Cultural Alfredo Leite Cavalcanti na década de 1980.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

O político e as raízes de Souto Filho

Gerusa Souto Malheiros* Do poder, meu pai não sentiu jamais o desvario, nem o considerou um bem de raiz. Da sua tolerância, da moderação e d...