Aqui, neste local, em tempos idos fôra a Estação da Rede Ferroviária. A locomotiva deslizava sobre os trilhos vencendo lentamente as distâncias. Era o trem sempre esperando proporcionando encontros. Pessoas se revezavam trazendo consigo recordações, a imagem dos recantos mais pitorescos. Fisionomias sombrias marcadas pela ausência. Olhos úmidos de lágrimas, lenço branco acenando ao longe - vontade doida de chorar. É o passado e o presente como ponte suspensa para o futuro. É um acontecimento social, transitório. Importante é a investidura na função. Ser Diretor do "Centro Cultural de Garanhuns", além de um ato de confiança, é sobretudo uma tomada de posição em termos do bem público. O homem que participa da vida pública, exercendo cargo, deve ter consciência plena de que o cargo não lhe pertence. Indeclinável é a capacidade de seu titular em exercê-lo com dignidade.
Trata-se, como se vê, de um compromisso que reflete a atividade de um Espírito na tomada de consciência de si mesmo. E através desse bem cultural, e de atos constitutivos, que os valores se revelam. Isto é óbvio a todo homem que se orienta em termos de bom senso e da razão. O razoável é algo do aprimoramento espiritual. A idade da razão é para muitos um pecado de inteligência que se nos apresenta imperdoável, quando a mediocridade tem força de decisão. Contudo, ninguém poderá viver isolado. Viver é bem relacionar-se, o joio vive ao lado do trigo até a época da ceifa. É um dos métodos dialéticos da natureza atuando entre dois polos. Estático e dinâmico. Os objetos do conhecimento o são em dois sentidos diferentes. Para identificá-los, o homem precisa ser naturalmente educado. Educado nos bons hábitos que aprimoram a faculdade de escutar. Poucos sabem escutar e por isto o mundo moderno é visto como um pandemônio, em que a beleza perdeu seu sentido. O Centro Cultural é um testemunho de perenidade. Seu ritmo, por enquanto, não pode ser apressado. O que lhe falta é uma sistemática. Uma perspectiva que o projete sobre o futuro como elemento decisivo de renovação e cultura. Sentimos isto logo aos primeiros contatos. Não havia estrutura, elementos básicos indispensáveis a um ordenamento diretivo. Tira-lhe imprescindível um processamento. Processo é o modo de fazer marchar a ação segundo as formas prescritas em lei ou regulamentos. Essas providências foram tomadas com a criação do Departamento de Teatro e sua comissão executiva com atribuições regulamentadas através de Portaria. Assim, foi o nosso primeiro passo de ordenamento diretivo, traçando normas e definindo responsabilidades.
Acompanhado pela lisura e probidade administrativa, apresentamos ao senhor prefeito - Amílcar da Mota Valença - uma exposição de motivos afim de se processar o levantamento Patrimonial do Centro Cultural de Garanhuns. Nesse esquema de ordem, o homem e o cargo é uma conotação de possibilidades. Como fazê-lo é um problema de entendimento. Porquanto o fato é ponto de partida e para um auditório ilustre, não haverá o que se explicar. O homem educado já possui esse ponto de partida ou pode adquiri-lo com facilidade. O bom senso não pode ser exclusivo de um sistema. Depende de um trabalho de equipe e de um espírito de sacrifício. É um trabalho da inteligência, levando-se em conta o que a visão é para o corpo, a razão é para a alma, algo do pensamento intelectual. Entendemos que o intelecto não é um condicionamento do meio, nem consequência da infra ou supra instrutura, é sobretudo, um estado de Espírito. A capacidade de criar no Eterno supera os vícios do ambiente. O entendimento aproxima o homem dos universais. Da consciência cósmica, centelha de Deus no homem. O Centro Cultural é destinado a reunir e centralizar os valores artísticos, não só do Teatro, uma das modalidades da cultura. Entendemos cultura como conjunto de conhecimentos, da capacidade criadora, de engenho e arte. Tudo isto no mais alto conceito é cultura. Entre nós valores existem. Tem faltado apenas, espírito de liderança para trazê-los em ambiente adequado. Entre o nosso corpo médico, há valores de grande teor cientifico. Os que limitam ao campo luminoso do Direito, pontificam verdadeiros ornamentos das letras jurídicas. Até, os que abraçaram a árdua carreira militar, a cultura intelectual, é hoje uma das mais belas paisagens do espírito de disciplina e amor à pátria. Tudo isto enriquecerá o patrimônio intelectual dos filhos da terra do planalto.
Como ponto culminante temos três centros luminosos de formação moral e intelectual de letras, ciência e Fé: Ginásio Diocesano, Santa Sofia e Colégio 15 de Novembro e ainda a nossa Faculdade onde prontificam renomados mestres do saber. Tudo isto, a seu turno, terá o seu dia, a sua hora no "Centro Cultural de Garanhuns". Assim se nos apresenta justificável a ideia de fundarmos a nossa Academia Garanhuense de Letras. Os que se impressionam com a nomenclatura, acham o título muito pomposo. Os de mentalidade possessiva preferem "letra de câmbio". Verdade é a nossa ideia encontrou receptividade na Imprensa de Pernambuco. Contudo, o mais importante é que, a simplicidade é o ponto alto desse futuro cenáculo de letras. Esperamos contar com todas as forças vivas da nossa cultura e com o Governo Municipal afim de levarmos a bom termo esse empreendimento. Como Diretor do Centro Cultural, pretendemos um novo passo à inteligência dos filhos desse terra do Magano que se ergue para o alto como desafiando o infinito. Berço de poetas e literatos.
Terra dos nossos avós e que nos serviu de berço, e pela sua beleza natural - é uma espécie de lírio a se desabrochar a mais de mil metros de altura.
Foto: Garanhuns, PE - Centro Cultural Alfredo Leite Cavalcanti na década de 1980.
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