terça-feira, 1 de agosto de 2023

Amílcar Valença, político forjado em boa têmpera

Marcílio Reinaux*

O homem público de comportamento ilibado e de caráter sem jaça, oriundo de respeitosa Família dentre as mais nobres de Garanhuns, Amílcar da Mota Valença. Ele vem de uma família de longevos. O pai falecido aos 95 anos, a mãe aos 96.

Para a política, foi  um exemplo. Que se busque uma palavra para melhor qualificar Amílcar e dentre tantas, haveria dificuldades de se escolher. Contudo escolhemos a palavra insigne que ainda é muito pouco para designar, qualificar ou se quer traduzir tudo o que foi o cidadão, o amigo, o chefe de Família, o político, o homem público à quem Garanhuns e todo o Agreste Meridional de Pernambuco, muito devem.

Terra das Colinas Verdejantes. Quem se dispuser a dar uma olhada na  Historiografia Política de Garanhuns desde a Constituinte, vai encontrar nestes agrestes, a figura de Amílcar pontificando, ora como Vereador, ora como Prefeito, mas em ambas as funções públicas, como um lídimo batalhador. Prestou a seu tempo relevantes serviços ao Município, notadamente nos arraiais da educação e da cultura. Como Vereador Constituinte, Amílcar  no seu primeiro mandato junto com outros Pares, dos quais conhecemos alguns: como Alfredo Leite Cavalcanti, Deusdedith Maia, Ernesto Dourado, Fausto Souto Maior, Othoniel Gueiros entre outros.

Presença marcante na vereança, tanto assim que  foi eleito para um segundo mandato ente 1951 a 1955, sendo seus companheiros, outros conhecidos do nosso tempos: Elias de Barros, Uzzae Canuto, Pedro Lima. Pela terceira vez Amílcar logrou êxito nas urnas sendo consagrado com  o voto popular e democrático, para o mandato de 1955 a 1959. Ali estava junto com Aloísio Pinto, José Cardoso, Luiz Pereira Júnior, Geraldo Calado e outros. Nos anos seguintes Amílcar deu um tempo a política, porém não se afastando. Já em 1963 retorna à cena agora como Prefeito, dirigindo o Município até 1968. O advogado Everardo Gueiros foi seu vice. Dos vereadores do período entre outros, Ivo Amaral, perfilando-se também como um político veemente defensor dos interesses do Município. Há de se ressaltar que Ivo Tinô do Amaral, "afinou" muito com Amílcar, pelos ideais sobretudo confiantes.

Ganharam a Cultura e a Educação de Garanhuns como um fulcro das suas ações daqueles homens públicos. Tornaram-se fraternos amigos. Da época eram vereadores: Jaime Pinheiro, José Inácio, Paulo Faustino e outros. Esta primeira administração pública, do Executivo do Município, foi assinalada pela criação do Colégio Municipal, uma das grandes conquistas de Garanhuns, com Ivo Amaral, mais uma vez batalhando ao seu lado, em um dos muitos legados deixados por Amílcar. De 1969 a 1972, ele teve outro descanso da política e cuidou de outras atividades, inclusive de sua propriedade, uma fazenda no Distrito de São Pedro. Em 1973 convocado pela quinta vez para atuar no cenário político de Garanhuns, ele volta à Prefeitura e vai alinhar-se no topo da política e pela segunda vez ocupando a Edilidade do Município até 31 de janeiro de 1977. Mais uma vez o amigo de sempre, Ivo Amaral como seu vice. Agora, Ivo não era apenas  só o companheiro, nem só o discípulo. Mas um braço forte.

"Ivo é o braço direito de Amílcar",  escutava-se na voz do povo. Governaram juntos numa salutar parceria em benefício do Município. Pode-se dizer que Ivo Amaral teve em Amílcar, um fiel companheiro de jornada política e diga-se: a recíproca foi verdadeira. Período auspicioso para a Garanhuns e Região do Agreste Meridional à época. Registra-se a criação da Faculdade de Administração de Garanhuns - FAGA, empreendimento vitorioso até hoje, fincado que foi com raízes profundas e robustas. O plantio dessa grande "árvore" que é a FAGA, "foi feita em terreno fértil, junto à ribeiros de águas", quatro mãos: as de Amílcar Valença e Ivo Amaral. Ambos fizeram tudo que os prefeitos fazem: obras públicas das mais diversas, todas em benefício dos munícipes. São obras - quando boas - marcam gestões administrativas. Mas há outro tipo de obras que marcam não apenas gestões, mas que ficam para gerações seguidas. O Colégio Municipal e a Faculdade são exemplos dessa perenidade. Representam um herança muito rica para Garanhuns. Da convivência sobremodo salutar com Amílcar, Ivo Amaral foi levado à outros degraus de seu destino político. Elevado ao cargo maior do Executivo, foi eleito Prefeito para a legislatura seguinte entre 1977 a 1982. Homem público por natureza, Amílcar foi em toda sua vida, de uma dedicação, extremada à educação. Parecia ouvir sempre o ensinamento do grande Pensador francês Michelet, (1798-1874) quem lembrava: "A primeira parte da política, é a educação. A segunda: a educação. A terceira: a educação". Deste modo Amílcar nunca entendeu política sem educação, pois vivendo essa  premissa e esse ensinamento, em tudo que fazia, colocava sempre em primeiro lugar a educação. Ele vinha de uma linguagem de educadores, onde estava o caráter e as ações de quase todos os membros da sua família. Uma plêiade com origens nos costados da Serra de Ororubá, do Município de Pesqueira, e de São Bento do Una e outros. Porém, Amílcar já nasceu mesmo em Garanhuns, na Praça João Pessoa. Dos doze  irmãos, seis, foram professores e educadores. Grandes educadores diga-se de passagem. Quem em Garanhuns não conheceu os Mota Valença? Quantas gerações foram moldadas no caráter e na educação por eles? Vale lembrar as Professoras: Arlinda, Almira, Alcina, Anita, Abigail (foi secretária), Alódia e Arminda não foram professoras. E mais: os irmãos Padre Agobar,  o Padre Adelmar e os irmãos; Asnar e Abgar (foram bancários). E do seu irmão o Padre Adelmar da Mota Valença como educador, o que dizer dele? Este foi e continua sendo uma legenda na História da Educação de Garanhuns, Pernambuco e repercutindo no Brasil. Com efeito foi a mais excepcional figura de educador que se conheceu no século passado. É nesse cadinho de religiosos e educadores que Amílcar foi forjado, em boa têmpera. Sua vida e sua obra, assim o provam.

Do signo de Touro, o homem público Amílcar da Mota Valença, legitimado pela consagração do voto popular, trazia sempre consigo aquela premissa Napoleônica, que dizia: "En politique il faut guérir  lês maux, jamais les venger". "Em política, é preciso curar os males, nunca vinga-los". Como religioso que sempre foi, Amílcar nunca teve ímpeto de vingança em qualquer momento de sua vida pública.

Ele tipifica como exemplo para várias gerações, um exponencial de uma safra de grandes e competentes políticos que Garanhuns produziu no século passado. Vem de uma fornada de homens públicos, sérios, corretos, íntegros. Uma geração de políticos com reserva moral, que floresceu em Garanhuns à época, com muitos, dentre os quais Amílcar foi o timoneiro.

Voltamos à reflexão inicial de insigne. Diz-se de insigne a pessoa, assinalada, destacada, ou extraordinária, em algum aspecto da vida, do  trabalho, algo referente à Família, ou do comportamento pessoal, ou ainda com respeito à atitudes de caráter excepcional. Amílcar da Mota Valença, foi esse homem público extraordinário. O grande líder político da Alemanha, Von Bismarck (1815/1898) em memorável discurso político proferido em 1863, afirmava que: "A política não é uma Ciência exata, mas é uma arte". Amílcar como Mestre da Arte, manejou bem  os instrumentos da política em benefício do povo. Por isso afirmamos: "Amílcar, Político forjado em boa têmpera".

*Escritor, poeta, jornalista e historiador.

Foto: Amílcar da Mota Valença.

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