domingo, 3 de agosto de 2025

Reencarnação (III)

Aurélio Muniz Freire

Dr. Aurélio Muniz Freire*

A reencarnação é um dos maiores princípios da Doutrina Espírita, assim como a Bíblia, em muitas de suas mensagens, é um dos fundamentos de apoio ao homem na Terra. Depois de se afirmarem tais  pontos de vista, indaga-se se os espíritas encontram respaldo bíblico sobre as vidas sucessivas.

A Bíblia é um livro inspirado e, por conseguinte, ditado por Espíritos, que o elaboraram através dos tempos. Desse modo, porque se trata de uma vasta obra referente à vinda e à conduta do homem, seus livros abordam ensinamentos de variadas ordens. E, dessa forma não poderia a Bíblia deixar de inserir em seus textos algo sobre e reencarnação, uma lei fundamental nos planos de Deus.

O profeta Malaquias, que viveu no século IV antes de Jesus, profetizou a volta de Elias, assim afirmando: "Eis que eu vos enviarei o profeta Elias, antes que venha o grande e terrível dia do Senhor" (MI, 4:5). Convém dizer que Elias tinha vivido na Terra quatro séculos antes de Malaquias. Já no Novo testamento, encontramos as seguintes passagens quando os discípulos interrogavam Jesus a respeito da vinda de Elias:

[...] Por que dizem, pois, os escribas, ser necessário que Elias venha primeiro? Então Jesus respondeu: - De fato, Elias virá e restaurará todas as coisas. Eu, porém, vos declaro que Elias já veio, e não o reconheceram. Então os discípulos entenderam que  lhes falara a respeito de João Batista (Mt, 17:10-13).

Nessa passagem dos Evangelhos, vemos não somente a afirmação categórica e iniludível de Jesus, dizendo que João Batista foi a reencarnação de Elias, mas também a publicação de outra vinda do mesmo profeta.

Ainda defrontamos com iguais afirmações dos evangelistas Marcos, Lucas e João, repetindo o que  Mateus já assentou sobre João Batista, como sendo e reencarnação de Elias. A crença entre os hebreus na lei de  reencarnação era  um fato comum àquele tempo. Senão,  vejamos:

Indo Jesus para as bandas da  Cesareia de Felipe, perguntou a seus discípulos: - Quem diz o povo ser o Filho do  Homem? E eles responderam: - Uns dizem: João Batista; outros: Elias; e outros: Jeremias ou algum dos profetas (Mt, 17:13-14).Ora, como poderiam dizer os discípulos fosse Jesus, no entendimento do povo, João Batista, Elias, Jeremias ou algum dos antigos profetas (todos já desencarnados), senão por força da reencarnação?  E mais: o silêncio de Jesus sobre a opinião pública, aceita pelos israelitas, valia como confirmação da crença que se fazia generalizada entre o chamado "povo de Deus" sobre a reencarnação.

No Evangelho de João, também achamos a afirmação dessas passagens, clareando-as do Velho  ao Novo Testamento. Dizia o precursor: "Vós mesmos sois testemunhas de que vos disse: Eu não sou o Cristo, mas fui enviado como seu precursor" (Ji, 3:28). Dispensável seria dizer que, quando alguém é enviado, é porque  já existia e foi mandado por alguém. Daí não mais  haver dúvidas quando o Mestre assim assentou: "Em verdade, em verdade te digo que, se alguém não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus" (Jo, 3:3). No entanto, a Bíblia traz ainda outros episódios com respeito à  à lei encarnatória. As citações aqui referidas são apenas as mais conhecidas. Depois, tudo reencarna. A própria natureza é um exemplo vivo da transformação constante, pois a lei da conservação da matéria nada mais é do que uma espécie de reencarnação natural, que se  inscreve como norma divina, na intimidade das coisas e dos  seres. "Em verdade, em verdade vos digo: Se o grão  de trigo, caindo na terra, não morrer, fica ele só; mas se morrer, produz muito fruto" (Jo, 12:24).

Somente a reencarnação (hoje aceita por mais de dois terços da humanidade) nos evidencia a justiça divina diante de incontáveis fatos da vida humana. As desigualdades individuais e coletivas, a presença de retardados mentais e de gênios, as ideais inatas, os casos teratológicos, os cegos, os surdos, os paralíticos de  nascença, as diversas malformações físicas e morais, afinidades e antipatias à primavera vista são fatos evidenciadores, todos eles, entre tantos outros, da lei palingenésica. Não fosse em tais casos a ação dessa lei natural e divina, Deus seria um pai de discriminações, de  privilégios, premiando a uns e castigando outros. Todos,  indistintamente, estamos a caminho do progresso, pois  a evolução é a maior presença em todos os campos da  vida.

Kardec prelecionava:

A doutrina da reencarnação, ou seja,  aquela que consiste em admitir para o homem muitas existências sucessivas, é a única que  corresponde à ideia que fazemos da justiça de  Deus, com respeito aos homens que se  encontram numa condição moral inferior; a única que pode explicar o nosso futuro e fundamentar as nossas esperanças, pois ela nos oferece o meio de resgatarmos os nossos erros através de nossas provas. A razão assim nos diz e  é o que os Espíritos nos ensinam (LE: Q. 171).

*Jurista e escritor / Garanhuns, PE - 2011.

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