quarta-feira, 16 de julho de 2025

O rouxinol

Cyl Galindo

Cyl Gallindo

Que importa as eras

e os homens

que te ouviram

rouxinol?


Que importa ainda agora

que teu canto se misture

ao toque do relógio westclock

ao primeiro coito

ao café tomado às pressas

às lembranças de minhas dívidas

da dívida externa do Brasil

da inflação?


Que importa Rouxinol que teu canto

continue

traçado no ruído do motor do carro

e na obrigação de assinar o ponto

na repartição?


Importa-me rouxinol,

que ao pôr a mão no queixo

esgotado de rotina e de emoções

tu pouses no arbusto de minha vida

fruto maduro

abrindo a cachoeira da garganta

vertas esse milenar canto inútil

ariando que a simplicidade é

é muito muito mais profunda

do que qualquer ciência.

Recife, 22 de março de 1984.

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