Que importa as eras
e os homens
que te ouviram
rouxinol?
Que importa ainda agora
que teu canto se misture
ao toque do relógio westclock
ao primeiro coito
ao café tomado às pressas
às lembranças de minhas dívidas
da dívida externa do Brasil
da inflação?
Que importa Rouxinol que teu canto
continue
traçado no ruído do motor do carro
e na obrigação de assinar o ponto
na repartição?
Importa-me rouxinol,
que ao pôr a mão no queixo
esgotado de rotina e de emoções
tu pouses no arbusto de minha vida
fruto maduro
abrindo a cachoeira da garganta
vertas esse milenar canto inútil
ariando que a simplicidade é
é muito muito mais profunda
do que qualquer ciência.
Recife, 22 de março de 1984.
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