terça-feira, 15 de julho de 2025

Canção

Belarmino da Costa Dourado

Belarmino da Costa Dourado*

Ao Dr. Souto Filho

Acorda mulher formosa,

Junto as águas de crystal

A lua já beija a rosa,

Num beijo nupcial.


Entre as molhas orvalhadas

Dormem os sylphos sonhando,

Ao som brandas toadas

Dos bardos, que vão cantando.


Acorda, o rio, o outeiro,

Se desata em mil canções,

Desde as trovas do barqueiro

Aos cantos das solidões.


Vém em minha alma os fulgores

Plantar da fé que preciso;

Sorrirás, flor dos amores,

Basta-me a luz de teu riso.


Cresce a noute, abre a janella

Que o luar banha de luz;

Desperta, é linda a aquarella

Que a natureza produz.


Já da aurora a branca estrella

Se esvae, qual pallida flor.

Ficas dormindo donzella,

Quanto tudo diz amor?


Acorda, etherea falúa,

Num voar subtil de luz,

Lá do céo descendo a lua.

Boia nos lagos azues.


Vém ouvir a voz plagente

Da guitarra harmoniosa,

Que além se ouve dolente

Na noite silenciosa.


Vém ouvir, que a noute expira

No seio da creação,

"Na extrema corda da Lyra,

A derradeira canção".

Fonte: Jornal "O Sertão" maio de 1919. 

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