domingo, 3 de agosto de 2025

O ser psicológico

Aurélio Muniz Freire

Dr. Aurélio Muniz Freire* 

Somos um complexo de qualidades. Vivemos numa permanência de ajustes e desajustes. Desejos, conveniências, direitos e obrigações cercam o existir, num constante desafio às nossas potencialidades. Exigências individuais e coletivas normatizam o procedimento da criatura, falando bem perto às nossas tendências, habilidades e aos nossos defeitos. Agimos positiva ou negativamente na vida, para nós e para os outros, à medida que respondemos com equilíbrio ou desequilibro às contingências do cotidiano.

Em meio a tantos conflitos ambientais, empurrados por tensões, embaraços, necessidades, existimos dentro de nossas próprias inclinações instintivas ou naturais. Também tangidos pelas conquistas alcançadas, buscamos vencer os obstáculos, afastando desastres, decepções, insucessos ou, pelo menos, espaçando-os mais em nossos caminhos. O progresso, o avanço realizado, o esforço compensado trazem-nos a satisfação, a alegria do acerto.

Dentro de um mundo tão cheio de problemas e numa sociedade onde vivem multidões, cada um de nós sabe que existe, conscientiza-se de si mesmo, identificando-se como unidade existencial, autoconhecendo-se como indivíduo, dentro das próprias limitações. Não nos afastamos na individualidade do que somos e, diante de apelos, solicitações ou desafios, damos resposta a tudo, naturalmente nos limites de nossas possibilidades. A totalidade de cada ser, de cada pessoa, faz-se presente diante da vida, havendo verdadeiramente integração psicomotora ao modo de comportar-se. Esse modo integrado (mente e corpo) de o homem agir recebe maior poder de penetração e estudo nos campos de uma psicossomática, de uma não menos atual Psicofisiologia.

Após essas considerações, urge falarmos sobre questões fundamentais relativas ao caráter e à personalidade do homem. Antes, convém ajuizarmos um  conceito de conduta como sendo "um conjunto de atos mediante os quais um indivíduo realiza suas decisões", conforme ensina o magistral Mira Y López. Essa noção se faz necessária, porquanto não se pode falar do caráter ou da personalidade de alguém sem que nos atenhamos aos aspectos de sua conduta.

O estudo do caráter ofereceu margem ao nascimento da Caracterologia. Em que pese o muito estudo e o  incontável número de pesquisas sobre o assunto, muitos psicólogos não encontram uma diferenciação entre caráter e personalidade. Há imprecisão, dúvidas, até mesmo estabelecendo fusão entre esses dois traços do eu numa  única realidade. Impõe-se, porém, uma distinção. No caráter, encontramos a marca do comportamento, o estilo, a maneira como habitualmente oferecemos reação aos atos e fatos da vida. Ele escreve os traços, os modos de  nossas respostas. É a tinta da nossa personalidade.

Depreende-se daí uma noção diferenciadora entre essas duas faces do ser. A personalidade é o gênero, o todo peculiar,  a maneira total e psíquica de como se apresenta a criatura. Na globalidade de suas características (herdadas ou adquiridas ao longo das vidas), o homem (Espírito) vai modificando sua personalidade sem, contudo, sair de sua individualidade.

A Doutrina Espírita também nos traz ensinamentos para o completo esclarecimento desses aspectos psicológicos da criatura humana. A personalidade e o seu caráter radicam-se no Espírito. Daí porque a Psicologia Espírita não teme o desenvolvimento da Ciência em  quaisquer dos seus segmentos. Sua profundidade desafia muitas vezes a superficialidade do conhecimento oficial ou acadêmico. A conduta humana, seu comportamento, o caráter e a personalidade do homem são aquisições do próprio Espírito. A organização neurocerebral e a sua fisiologia, tangendo a criatura a comportar-se desta ou daquela maneira, ou, por outro lado, apresentando-se em diversos graus de inteligência, tudo isso diz da idade espiritual de cada um.

Faculdades morais e intelectuais, qualidades boas ou más, tendências viciosas ou corretas, imperfeições da conduta, desvios comportamentais, leviandades, paixões são manifestações do Espírito. A correção de atitudes, a responsabilidade diante da vida, o amor aos  semelhantes, o ideal de progresso, o equilíbrio nas mudanças são fixações na personalidade do Espírito cujo caráter sela o modo como ele percorre o seu caminho.

Identificamo-nos pelo que somos. Allan Kardec, no Livro dos Espíritos (Questões 361- 366), alinhou notáveis ensinamentos (noções, conceitos) imorredouros, atuais, oferecendo-nos o perfil psicológico do eu, que é o Espírito.

*Jurista e escritor / Garanhuns, PE - 2011.

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