São Paulo (SP) - Alceu era o tipo daquele cara que um dia conhecemos em algum lugar para o qual as coisas dão sempre erradas. Não sem razão, era conhecido na empresa onde trabalhava como Alceu o Azarado. Era no entanto uma boa pessoa. Trabalhava na área de estoque de produtos acabados empilhando latas de tintas e tinha um excelente relacionamento com seus colegas de trabalho. Alceu porém, tinha um segredo que guardava à sete chaves. Solteirão, já com mais de 30 anos era apaixonado simplesmente pela mulher mais cobiçada da empresa a bela Lara. Lara não deveria ter mais que 19 anos e era realmente muito bonita. Dona de uma pele branca que contrastava com seus lábios vermelhos e olhos negros como a noite e de corpo escultural. Por onde passava arrancava suspiros de todos. Para sorte de Alceu se é que ele tinha alguma, Lara trabalhava no mesmo departamento que o dele na parte administrativa. Estava em contato com ela quase toda hora. Havia porém um problema, Lara não dava a mínima para o Alceu, apesar de o tratar bem. Aquilo era humilhante pra ele. Perguntas pipocavam a toda hora na sua cabeça à procura de uma razão para o desprezo, como se ele fora um Dom Juan o que definitivamente não era. Será que ela não quer nada comigo porque não tenho carro? E lá vai Alceu sacrificando-se para adquirir um velho fusca. Quem sabe agora não conseguiria a sua atenção? Mais o tempo foi passando, e nada da Lara dar qualquer esperança para o Alceu.
Um dia, num intervalo entre o almoço e o segundo turno, estava Alceu dentro do seu velho fusca curtido músicas quando de repente ver se aproximando um cara chamado Enaldo. Enaldo no entanto, era o oposto de Alceu. Dava tremenda sorte com as mulheres incluindo no rol, a sua favorita e cobiçada Lara. O que será que esse cara tem que eu não tenho pensava Alceu. Enquanto Enaldo se aproximava do carro, ao chegar próximo Alceu chamou por Enaldo. Enaldo dá um pulinho aqui. Senta um pouco para batermos um papo. Enaldo entrou no fusca e começaram a conversar. No meio do papo, Alceu foi ao que interessava. Enaldo você é um cara de muita sorte pois as mulheres estão sempre te rodeando. Enaldo foi logo tratando de se fazer de difícil. É meu caro você tem que ter muita lábia e isso é o que não me falta. E era verdade. Enaldo era um tremendo cascateiro. Mais Enaldo, até a Lara te puxa o saco? É o que te digo você tem quer ter charme, lábia. Enaldo ela nunca falou a meu respeito para você. Quem? A Lara? Você tá de brincadeira. Nunca. Cai fora Alceu. A Lara é muita melancia pro teu caminhão. Nada cara. Te chamei aqui porque tenho um plano e você precisa me ajudar.
E que plano é esse Alceu? Faz o seguinte, convida ela para tomar um choop no Marinheiro sexta à noite. O Marinheiro era um restaurante de frutos do mar muito procurado por casais. Alceu a Lara não bebe. Não tem importância. Lá servem ótimas porções e ótimos bolinhos de bacalhau. E ai. Qual o plano? É simples. Você leva ela lá e logo em seguida apareço como se não soubesse de nada. Pode deixar, que pago toda a despesa. Combinado, disse todo faceiro Enaldo. E assim acabou acontecendo.
Na sexta à noite Enaldo e Lara comiam a sua porção de bacalhau quando repentinamente apareceu Alceu. Alceu fez que não viu os dois e já ia passando ao lado quando foi chamado por Enaldo. Alceu senta aqui pra tomar um choop. Alceu fingindo não saber de nada se fez de difícil e disse estar com pressa e não poderia fazer companhia aos dois. Nesse instante Lara catucou os pés de Enaldo por baixo da mesa como se dissesse: deixa esse cara ir embora. Só que a coitada da Lara não sabia que tudo aquilo era um jogo de cena, uma armação entre ambos. Depois de muito insistir Enaldo conseguiu que Alceu ficasse com eles. E o papo rolou noite adentro. Enquanto Lara e Enaldo comiam os bolinhos de bacalhau e tomavam sucos e refrigerantes, Alceu tomava um Chopp atrás do outro. Lá por volta das dez horas da noite os três resolveram ir embora. Alceu, já quase que completamente bêbado pagou a conta e cambaleante se dirigiu ao velho fusca para levar os dois às suas casas. Mesmo bêbado, Alceu deu o que lhe pareceu na ocasião um golpe de mestre. Pensou com ele: primeiro deixo Enaldo em casa e depois levo Lara. E foi exatamente o que fez.
Quando estava levando Lara em casa, Alceu estacionou o carro numa pracinha que era frequentada por casais apaixonados. Lara perguntou o que ele estava fazendo. Alceu disse-lhe que precisaria conversar com ela alguns minutos. Lara, disse Alceu fixando os olhos naquele rosto lindo e rubro pela surpresa com a atitude de Alceu. Eu gostaria de te dizer Lara que te amo e estou apaixonado por você. Ao dizer isso Alceu segurou delicadamente o rostinho de Lara. Seus lábios vermelhos e carnosos surpreendentemente sinalizaram positivamente com um leve sorriso. Após aquelas palavras apaixonadas e vendo que Lara assentiu, Alceu não perdeu tempo. No começo delicadamente e depois com fúria beijou Lara na boca sendo correspondido com maior intensidade ainda pela sua princesa. O velho fusca pareceu querer levantar voo. A buzina disparou várias, vezes, o câmbio passou pelas quatro marchas, os bancos estalaram e ali no escurinho da praça Alceu o Azarado pareceu ter encontrado afinal o seu dia de sorte.
Cansados pelo prazer, Alceu e Lara caíram em profundo sono. Passaram-se várias horas quando afinal Alceu já mais sóbrio despertou. Ali deitada em seu colo encontrava-se a sua querida Lara a mais cobiçada, seu maior troféu, a mulher da empresa que agora passava a ser só sua. Alceu não conseguiu evitar uma gargalhada. Quero ver segunda-feira o que eles vão falar quando eles souberem que Lara é minha namorada pensou com seus botões. Ai vão parar de me chamar de azarado. Alceu então gentilmente, pois a mão no pescoço de sua amada que quase desmaiada a ronronava como um gata ainda dormindo enrolada no seu colo. Já era quase três da manhã e ele precisava levá-la de volta à casa. Alceu então acendeu a luz interna para despertá-la. Entre surpreso e assustado Alceu deu um grito de espanto com o que viu. Sua formosa e querida princesa Lara que dormia profundamente entre as suas pernas na realidade era nada mais nada menos que o sem vergonha do Enaldo.
*Clovis de Barros filho, nasceu na Serra da Prata (Iatecá). Estudou no Colégio Diocesano de Garanhuns do Admissão ao Científico onde concluiu em 1968. Reside em São Paulo desde 1970. É Licenciado e Bacharel em Química Industrial pela Universidade de Guarulhos e Químico Industrial Superior pelas faculdades Osvaldo Cruz - SP.
Créditos da foto: https://www.artesanatopassoapassoja.com.br/
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