João Marques* | Garanhuns, 04/11/2023
Sexta-feira à tarde, eu havia ido tomar um cafezinho no Iris, muito perto do escritório da firma S. Moraes, onde trabalhava. De repente, vão-me chamar, apressadamente. Corri, era um telefonema de Alcides, do Banco do Brasil. Urgente, comparecer à Agência, na praça da Bandeira. Com o vigor dos meus 24 anos, subi a ladeira, apreensivo. Expediente encerrado, bati numa porta lateral que havia. Fui atendido, entrei e, autorizado, fui pelo meio do salão procurar Alcides.
Sou recebido, com um sorriso, e a pronta informação:
- A sua posse chegou! Assine, aqui, e vá ao sub- gerente, "seu" Frederico!
Surpreso, quis eu retroceder, dizendo que era já fim do dia, expediente encerrado, e não havia mais o que fazer. O encarregado do setor FUNCI, acrescentou:
- Não tem nada! A posse sendo hoje, você ganha dois dias!
O subgerente, de suspensórios, cumprimentou-me, e deixou que eu fosse levado por pequeno grupo sorridente. Sentaram-me à maior máquina de escrever. Já colocadas duas ou três grandes folhas de papel, com carbono... E fui informado que era para eu fazer o balancete.
- Não pode errar! Vamos, comece!
Minhas mãos suaram. Olhei em volta, e vi que todos olhavam para mim. Cheguei a começar a tarefa, sentindo o peso da função assumida. Felizmente, não custou, "seu" Frederico veio e, sorrindo, disse que era um trote.
Assim, naquele distante dia 6 de novembro de 1964, longe dos 100 anos da Agência, que se comemoram, agora, sentei-me pela primeira vez na cadeira do funcionário do Banco do Brasil. E, com a acolhida dos novos colegas, em clima de alegria e irmandade, senti, com orgulho, confesso, a dimensão valorosa que assumia. Vinte e sete anos, nessa agência de Garanhuns, vi-me sempre sentado ante uma máquina de escrever grande, e ao redor os colegas, de bom grado, ensinando-me a escrever o balancete da vida.
*João Marques dos Santos, natural de Garanhuns, onde sempre residiu, é poeta, contista, cronista e compositor. Teve diversas funções nas atividades culturais da cidade: foi Presidente da Academia de Letras de Garanhuns, durante 18 anos, Diretor de Cultura do Município e, atualmente, é presidente da Academia dos Amigos de Garanhuns - AMIGA. Compôs, letra e música, o Hino de Garanhuns. Mantém, desde 1995, o jornal de cultura O Século. Publicou quatro livros de poesia: Temas de Garanhuns, Partições do Silêncio, Messes do azul e Barro.
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