terça-feira, 15 de julho de 2025

A pedra e a sombra

Maurilo Campos Matos

Maurilo Campos Matos

Encontrei um homem entre os homens

Carregando, no ombro, uma cruz.

- Era um homem igual aos outros homens.

- Era uma cruz igual a toda cruz.


Descobri uma pedra entre outras pedras

Porque sobre ela havia uma gota d'água.

- Era uma pedra igual às outras pedras.

- Uma gota d'água igual às gotas d'água.


Conheci uma sombra entre outras sombras

Porque nela brilhava um vaga-lume.

- Era uma sombra igual às outras sombras.

O vaga-lume... Um simples vaga-lume.


Depois... voltei seguindo a mesma estrada.

O vento carregava a gota d'água

E não brilhava mais o vaga-lume.

Tentei em vão achar naquela estrada

Aquela sombra sem o vaga-lume.


Mas, lá estava aquele mesmo homem,

Carregando no ombro a mesma cruz.


Parei... e lhe contei com muita mágoa,

Histórias tristes de uma gota d'água

De um vaga-lume que perdera a luz.


Na sombra de minh'alma torturada

Brilhava a luz do seu olhar sereno.


Olhei então as pedras da estrada...

Em cada uma havia uma gota d'água

Que ele docemente recolhia.

(Garanhuns, 5 de agosto de 1965).

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