De 13 a 18 de fevereiro de 1922, no Teatro Municipal de São Paulo, aconteceu a Semana de Arte Moderna. Não foi uma exposição como outra qualquer. Ela culminou com o primeiro movimento modernista no Brasil. Intelectuais e artistas de todas as áreas, completados seus estudos na Europa, implementaram o movimento neste País. E coube a São Paulo o limiar desse mito que, verdadeiramente, deu novas feições às artes no Brasil.
O público não conhecia, ainda as manifestações diferentes, da Arte Moderna, e estranhou a nova modalidade. E foi o movimento recebido, com vaias, apupos, toda forma de protesto. Até o compositor Villa Lobos foi vaiado, por entrar no palco calçando chinelo em um pé. A imprensa levantou criticas, rejeitando o Modernismo. Contudo, a Academia Brasileira de Letras, e, pouco a pouco, as revistas se posicionaram a favor. E se tomou, para posterioridade, a Semana de Arte Moderna um marco de inteligência e de bravura. Cem anos depois, continua sendo reconhecido o movimento como ato de heroicidade e grandeza dos artistas da vanguarda de então.
O pernambucano Manuel Bandeira participou, com o poema Os Sapos em ridicularização ao Parnasianismo. Além de outras participações, ficou mais conhecido o Grupo dos Cindo - Mário de Andrade, Menotti Del Picchia, Anita Malfatti, Tarsila do Amaral e Oswaldo Andrade.
Os Sapos
Manuel Bandeira
Enfunando os papos,
Saem da penumbra,
Aos pulos, os sapos.
A luz os deslumbra.
Em ronco que aterra,
Berra o sapo-boi:
— "Meu pai foi à guerra!"
— "Não foi!" — "Foi!" — "Não foi!".
O sapo-tanoeiro,
Parnasiano aguado,
Diz: — "Meu cancioneiro
É bem martelado.
Vede como primo
Em comer os hiatos!
Que arte! E nunca rimo
Os termos cognatos!
O meu verso é bom
Frumento sem joio
Faço rimas com
Consoantes de apoio.
Vai por cinqüenta anos
Que lhes dei a norma:
Reduzi sem danos
A formas a forma.
Clame a saparia
Em críticas céticas:
Não há mais poesia,
Mas há artes poéticas . . ."
Urra o sapo-boi:
— "Meu pai foi rei" — "Foi!"
— "Não foi!" — "Foi!" — "Não foi!"
Brada em um assomo
O sapo-tanoeiro:
— "A grande arte é como
Lavor de joalheiro.
Ou bem de estatuário.
Tudo quanto é belo,
Tudo quanto é vário,
Canta no martelo."
Outros, sapos-pipas
(Um mal em si cabe),
Falam pelas tripas:
— "Sei!" — "Não sabe!" — "Sabe!".
Longe dessa grita,
Lá onde mais densa
A noite infinita
Verte a sombra imensa;
Lá, fugindo ao mundo,
Sem glória, sem fé,
No perau profundo
E solitário, é
Que soluças tu,
Transido de frio,
Sapo-cururu
Da beira do rio.
*João Marques dos Santos, natural de Garanhuns, onde sempre residiu, é poeta, contista, cronista e compositor. Teve diversas funções nas atividades culturais da cidade: foi Presidente da Academia de Letras de Garanhuns, durante 18 anos, Diretor de Cultura do Município e, atualmente, é presidente da Academia dos Amigos de Garanhuns - AMIGA. Compôs, letra e música, o Hino de Garanhuns. Mantém, desde 1995, o jornal de cultura O Século. Publicou quatro livros de poesia: Temas de Garanhuns, Partições do Silêncio, Messes do azul e Barro.
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