sábado, 19 de julho de 2025

A Palmeira

De Manoel Cícero do Nascimento

Ó palmeira que dá fruto

Lá nas plagas do sertão

Se erguendo do solo bruto

Leva a sombra pelo chão

Fantasma esguia da noite

Que de vento em cada açoite,

Gargalha na solidão!


Lá no tôpo da colina,

Seu leque verde nos ares,

Chorando a cassuarina

Confundo nos seus cantares.

Harpa-voz do taboleiro

Que harmoniza o boiadeiro

Na carícia dos luares.


Palmeira que rasga o espaço

De folhagem sôlta ao vento,

Cada palma é longo braço

Que se estende ao firmamento

Abre e fecha aos vendavais,

Cantando a canção da paz,

Ritmada no acalento.


Da brisa na madrugada

Que lhe atinge as bastas cãs,

A tremular orvalhada

Pelo pranto das manhãs,

Ó princesinha das matas

Que revive as serenatas

Na toada dos seus fans...


Palmeira, fantasma nua 

No longo colo da mata,

Sua basta cabeleira

Se esvoaça a noite inteira

Na selente serenata.


Palmeira dos Chucurus

Que cresceu de pé, sem mágoa,

Na noite fria, sem luz,

No dia quente, sem água...

Despida lá na colina,

Gagueja a cassuarina,

Recortando a sua anágua.


Palmeira da mocidade

Que luta pelos jornais.

Dos poetas da saudade

Que pregam no verso a paz,

Do saudoso Chico Nunes,

Efigênio Moura - lumes

De versos que têm cartaz!!


Palmeira da mocidade

Que compra livro à mão cheia,

Com o verbo o sertão invade,

Em vila, cidade, aldeia,

São moços que levam templos

Na cabeça como exemplos

De saber que não se peia.


Palmeira, és glória da terra!

palmeira, és terra de glória!

E o mestre Manuel Bezerra

Vai escrever tua história!...


Palmeira que invade a serra

Do vale cheio a quebrada...

Pelo agreste o gado erra,

Prenúncio de vaquejada.

Quando à tarde, o sol declina,

Sua sombra na colina,

leva a noite pela estrada!


Do Mendes, és tu, Palmeira!

Do Hélio também tu és...

Do Bezerra és companheira,

Rebêlo te eleva em dez.

Nenhum dos teus fica à parte,

Só o magro - o Linduarte,

palmeira, pisou-te os pés...


Palmeira, fada dengosa

Que ante o vendaval desmaia...

Mais ereta que Viçosa,

Mais firme do que Atalaia...

Palmeira do sertanejo

Que a folhagem, seu lampejo

Do sertão, reflete à praia...


Palmeira do trovador,

Do arrojado violeiro,

Que sustenta o seu valor

Nos duelos do terreiro,


O Chico Nines saudoso,

Efigênio - o primoroso,

Mais que os dois não há primeiro...


Ó Palmeira do sertão,

A tua seiva tem ópio

Que sustenta a tradição

Em cada frase, um colóquio...

O teu Linduarte, às vezes,

Lembra Emílio de Menezes,

Olhado de microscópio!...

Maceió, 30 de abril de 1960.

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