De Manoel Cícero do Nascimento
Ó palmeira que dá fruto
Lá nas plagas do sertão
Se erguendo do solo bruto
Leva a sombra pelo chão
Fantasma esguia da noite
Que de vento em cada açoite,
Gargalha na solidão!
Lá no tôpo da colina,
Seu leque verde nos ares,
Chorando a cassuarina
Confundo nos seus cantares.
Harpa-voz do taboleiro
Que harmoniza o boiadeiro
Na carícia dos luares.
Palmeira que rasga o espaço
De folhagem sôlta ao vento,
Cada palma é longo braço
Que se estende ao firmamento
Abre e fecha aos vendavais,
Cantando a canção da paz,
Ritmada no acalento.
Da brisa na madrugada
Que lhe atinge as bastas cãs,
A tremular orvalhada
Pelo pranto das manhãs,
Ó princesinha das matas
Que revive as serenatas
Na toada dos seus fans...
Palmeira, fantasma nua
No longo colo da mata,
Sua basta cabeleira
Se esvoaça a noite inteira
Na selente serenata.
Palmeira dos Chucurus
Que cresceu de pé, sem mágoa,
Na noite fria, sem luz,
No dia quente, sem água...
Despida lá na colina,
Gagueja a cassuarina,
Recortando a sua anágua.
Palmeira da mocidade
Que luta pelos jornais.
Dos poetas da saudade
Que pregam no verso a paz,
Do saudoso Chico Nunes,
Efigênio Moura - lumes
De versos que têm cartaz!!
Palmeira da mocidade
Que compra livro à mão cheia,
Com o verbo o sertão invade,
Em vila, cidade, aldeia,
São moços que levam templos
Na cabeça como exemplos
De saber que não se peia.
Palmeira, és glória da terra!
palmeira, és terra de glória!
E o mestre Manuel Bezerra
Vai escrever tua história!...
Palmeira que invade a serra
Do vale cheio a quebrada...
Pelo agreste o gado erra,
Prenúncio de vaquejada.
Quando à tarde, o sol declina,
Sua sombra na colina,
leva a noite pela estrada!
Do Mendes, és tu, Palmeira!
Do Hélio também tu és...
Do Bezerra és companheira,
Rebêlo te eleva em dez.
Nenhum dos teus fica à parte,
Só o magro - o Linduarte,
palmeira, pisou-te os pés...
Palmeira, fada dengosa
Que ante o vendaval desmaia...
Mais ereta que Viçosa,
Mais firme do que Atalaia...
Palmeira do sertanejo
Que a folhagem, seu lampejo
Do sertão, reflete à praia...
Palmeira do trovador,
Do arrojado violeiro,
Que sustenta o seu valor
Nos duelos do terreiro,
O Chico Nines saudoso,
Efigênio - o primoroso,
Mais que os dois não há primeiro...
Ó Palmeira do sertão,
A tua seiva tem ópio
Que sustenta a tradição
Em cada frase, um colóquio...
O teu Linduarte, às vezes,
Lembra Emílio de Menezes,
Olhado de microscópio!...
Maceió, 30 de abril de 1960.
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