Quem tem uma carta de amor? Quem tem? Saí indagando numa repartição de trabalho, com muitas pessoas, esta semana. Uma carta de amor nova ou antiga... Todo mundo estranhou a minha procura. Aceitaram o motivo, a publicação nesta página literária, pela passagem do Dia dos Namorados, mas não havia carta. Fui devidamente informado que, atualmente, não se usa mais escrever cartas de amor. Um cartão, um postal, quando muito. Ah! É mesmo, tudo agora é por telefone!... Suspirei, convencido de que os tempos, hoje, são outros. Há 30 anos , digamos, ainda se escrevia bilhetes e cartas... Um momento! Explico que está crônica passa a ser dirigida, principalmente, aos mais jovens, aos que, infelizmente, não escrevem mais cartas de amor. Eram elas, continuando, muito bonitas. Continham declarações íntimas, sentimentos de paixão. A linguagem, poética. Todo apaixonado é poeta, é regra. A não ser nos tempos atuais, quando não se escreve mais as cartas de amor. Muitas vezes, vinham perfumadas ou com uma flor seca... uma marca dos lábios de batom. Os namorados tinham emoções, ao receberem uma carta. Eram guardadas por muito tempo e, se o namoro acabava, se fazia devolução ou, tristemente, se queimava.
- Nunca recebi uma carta de amor!
Uma amiga me disse. Eu insisti, curioso, por ela ser uma pessoa muito amável, delicada... Ela confirmou que não. Nunca recebeu uma carta de amor. Achei horrível isto. Pensei na gravidade do assunto. Quem sabe! Tantas separações de casais jovens!... As cartas, não seriam elas que estão faltando na vida dos namorados? Aqui, pois, o meu protesto à falta das cartas. Não se pode ter um amor feliz sem deixar no papel uma mensagem, um registro que dê saudade depois. Tive a ideia, inclusive, de reunir muitas cartas de amor, cedida, é claro, por antigos casais e organizar uma exposição. No próximo ano, na passagem do Dia dos Namorados. Quem quiser participar, procure-me ou se dirija a este jornal.
Abaixo dois sonetos de enamorado, não são efetivamente cartas de amor. Infelizmente, não pude dispor de uma carta para publicar neste espaço. Deixo entretanto, aos namorados o desejo de que se amem muito, marquem os encontros por telefone, mas, para que o amor seja mais expressivo, escrevam cartas uns para os outros. Vão ver como é bom!
DESILUSÃO
Maviael Medeiros Júnior
Quem ama não consegue disfarçar
a dor que sente um coração ferido
por uma amor já não correspondido
que só nos faz sofrer e torturar.
Quem ama é capaz de se entregar
de corpo e alma a um amor bandido
e o pobre coração desiludido
assim mesmo, não hesita em perdoar.
O amor nem sempre traz felicidades
a quem ama e deseja ser feliz...
Dura e cruel é a dor de uma paixão
Que a nós se mostra indiferente... há de
fazer lastimar por quem não lhe quis
demasiadamente o coração.
SAUDADE
Maviael Medeiros Júnior
meu coração está deveras triste,
Sentindo a tua falta a todo instante
porque de mim agora estás distante,
só a saudade no meu peito existe.
Tento enganar meu coração, eu tento
mandar que a solidão se vá embora...
Meu pensamento vai comigo agora
ao teu encontro nas asas do vento.
Levando o meu sorriso, um beijo meu...
Amor como esse que entre nós nasceu,
Talvez não haja amor tão grande assim!
Já não suporto a dor que em mim inflama
Essa dor tão cruel, dor de quem ama.
É a saudade que não tem mais fim.
*João Marques dos Santos, natural de Garanhuns, onde sempre residiu, é poeta, contista, cronista e compositor. Teve diversas funções nas atividades culturais da cidade: foi Presidente da Academia de Letras de Garanhuns, durante 18 anos, Diretor de Cultura do Município e, atualmente, é presidente da Academia dos Amigos de Garanhuns - AMIGA. Compôs, letra e música, o Hino de Garanhuns. Mantém, desde 1995, o jornal de cultura O Século. Publicou quatro livros de poesia: Temas de Garanhuns, Partições do Silêncio, Messes do azul e Barro.
Nenhum comentário:
Postar um comentário