Judas foi um personagem de grande importância na tarefa desempenhada por Jesus Cristo, é tido como um traidor, e constitui-se na Semana Santa, uma figura galhofada e objeto das mais severas críticas. Os gaiatos fazem Judas de todo tipo, comumente comparando-o com certas pessoas de posição mas que não agradam a opinião pública.
A matança dos Judas é feita nos sábados de Aleluia, após os cânticos de Ação de Graças.
Antes da morte, é lido o testamento deixado pelo condenado, e os seus pertences são distribuídos entre os inimigos dos matadores de forma ridícula e engraçada. Por exemplo: a cabeça pertence a fulano de tal, os braços a beltrano e assim por diante. As vergonhas de Judas vai pertencer aos piores inimigos, etc.
Das festas dos Judas, a mais engraçada é a de roubar. Nos idos de 1970, numa localidade aqui na Zona Rural de Garanhuns, certo fazendeiro achou de fazer um Judas e depois de aprontá-lo, colocou-o dentro de um armazém para evitar ser roubado, pois, a sua pretensão era matá-lo no dia seguinte, e na ocasião fazer uma festa entre os amigos, onde várias bebidas eram acompanhadas com buchadas e outras comidas por eles preparadas. Por arte do diabo, o vizinho mais próximo tomou a deliberação de roubar o Judas do outro, mas como fazê-lo, se o mesmo encontrava-se no armazém?
De repente veio uma ideia, que foi imediatamente posta em prática. Convidou vários rapazes da redondeza e expôs o plano: "temos que encontrar uma panela de barro, bem grande, e colocá-la sobre a cabeça de um de vocês e... Às seis horas da noite, daquela Sexta-feira Santa, chegaram à casa do fazendeiro todos os articuladores da artimanha, e apresentaram a ele, um Judas muito grande que nada mais era do que um moleque com a panela enfiada na cabeça, vestido de molambos e sem mexer nenhum dos membros. Foi nessa ocasião que o gaiato entrou, e foi logo dizendo assim: - Olha fulano, fizemos este Judas, mas querem roubá-lo, para evitar, viemos pedir-lhe para guardar junto com o seu, e amanhã cedo mataremos os dois.
O pobre fazendeiro que estava longe de descobrir a trama, ordenou ao empregado da fazenda:
- Abra o armazém e deixe os meninos guardarem o Judas deles junto com o meu, mas cuidado, hem?
Era isto que eles queriam. Botaram o Judas dentro do armazém, um ao lado do outro e em seguida rumaram para a casa grande e ficaram à espera de que o Judas de mentira abrisse uma porta, cuja tranca era fácil de abrir e carregasse o Judas verdadeiro.
Mandado não sei de quem, a mulher do dono da casa verificou a falta de querosene para os candeeiros, e disse para o marido:
- Olhe, está faltando gás e você sabe que hoje ninguém vai dormir.
O proprietário mandou o empregado ir ao armazém, buscar o querosene que encontrava-se num depósito. Ao abrir o armazém, o Judas de mentira ficou entretelado, pedindo a Deus para não ser descoberta sua desfaçatez.
De repente, o rapaz que foi buscar o gás puxou uma faca da cinta e cravou-a na barriga do Judas do patrão. O outro, agarrou-se com o primeiro e ficaram os dois embolando no chão. O ardiloso empregado quando viu os Judas agarrados, correu para avisar ao patrão. Ao chegar em casa quase morto de medo, gritou:
Patrão, acuda que os Judas estão virados na peste, dentro do armazém, deixei-os agarrados e a briga é para acabar tudo.
O fazendeiro correu em desabalada carreira para o local, mas já era tarde, seu Judas já encontrava-se no ôco do mundo. Tenham cuidado com os Judas que ficam perto de vocês, porque, os de hoje, não se enforcam mais.
*Professor, jornalista e historiador Garanhuns, 18 de abril de 1981.
Nenhum comentário:
Postar um comentário