É intensa a sensação de que passo. O tempo presente se vai, e tenho medo do passado. A dureza da existência, que a mim compete, vai pouco a pouco deixando atrás um abismo. O passado é essa encosta por onde desço, e implacavelmente me precipito sem mais amparo do chão. A queda anula tanto a edificação do futuro, que vejo ressurgirem com as manhãs ruinas.
Consciência, a consciência padece da realidade, como submissão ao que é. Como se dá com a verdade, que oprime os fracos.
Resta a inspiração do espírito, sobretudo ideal, de que o tempo a de morrer e ressurgir, diferente. O passado, digamos, seja vertido, e não passe... Acabe a aflição de lembrar... a vida, que é eterna, penso, esquecido o passado, seja sempre a espera que chega, sem tempo.
Agora, é isso, enquanto as flores insistem na afirmação da alma, um conflito que estende a morte do que morre à espada afiada do que foi. Posso afirmar que, pelo passado, sou escombro de mim, nada mais.
*João Marques dos Santos, natural de Garanhuns, onde sempre residiu, é poeta, contista, cronista e compositor. Teve diversas funções nas atividades culturais da cidade: foi Presidente da Academia de Letras de Garanhuns, durante 18 anos, Diretor de Cultura do Município e, atualmente, é presidente da Academia dos Amigos de Garanhuns - AMIGA. Compôs, letra e música, o Hino de Garanhuns. Mantém, desde 1995, o jornal de cultura O Século. Publicou quatro livros de poesia: Temas de Garanhuns, Partições do Silêncio, Messes do azul e Barro.
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