Saio pela manhã e as cores do verão me envolvem: o fogo dos "flamboyants", o amarelo dos lírios (hemerocálix), o vermelho dos gerânios, o rosa das acácias, o branco das margaridas, o roxo, lilás, vermelho, branco das buganvílias (as hortênsias!), o roxo e o amarelo dos ipês. E as cores - mais nuances que cores - de - dezenas de outras flores.
De repente, o impacto: rosas de todas as cores. Destaco as vermelhas e as amarelas. E aquela, cor de pérola, de delicadeza e floração ímpares.
Há todas as nuances do verde e o azul intenso no céu.
(No coração, a prece de louvar, o hino de ação de graças, o cântico de alegria). À tarde, as vozes do verão: cigarra e pássaros. Orquestra a executar prelúdios, cantatas de sonho.
Gritos agudos das criancinhas, na praça. Ruídos de insetos invisíveis e desconhecidos. Tudo é beleza.
Mas, ó meu Deus, existe a dor do sertanejo que morre de sede e fome. Existem pessoas que não podem ver e ouvir a beleza que espalhas na terra, porque estão morrendo à mingua.
À míngua de uma decisão política.
À míngua da compreensão dos seus governantes. À míngua de humanidade.
E, no entanto, há imensos lençóis d'agua subterrâneos. Vida escondida sob o manto áspero e árido da terra.
Quem quer fazer jorrar vida no deserto? Quem quer resgatar um povo inteiro? Quem que ver florir a aridez?
Estupidamente, tenta-se, como a avestruz, enterrar a cabeça no chão, para não ver a esperança acenando. Para não ouvir o chamado da terra abandonada.
Dizia alguém que "eterno é o debate entre a eficiência e a pureza. E os que escolheram a eficiência, conservam a nostalgia da pureza." Não penso assim. A eficiência e a pureza devem andar lado a lado, de mãos dadas. Para que o trabalho seja um ato de dignidade e de bem estar. Urge que o homem pense no homem, o irmão no irmão. Isto não significa dar o que tenho, mas, repartir o que posso.
Cores e vozes do verão levam-me até o alto sertão, ali, onde se bebe e respira sol.
É necessário que o cinza da caatinga, a face rachada da terra deem lugar às cores múltiplas, ricas, variadas do trópico. E às suas vozes.
Urge olhar para o sertão. Qual será a força que resgatará o "homem forte". "O forte" de Euclides da Cunha?
Recolho-me e rezo e peço a Deus o milagre. Porque milagre, agente pede a ELE.
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