segunda-feira, 21 de julho de 2025

Revelações - Parte V

Luzinette Laporte de Carvalho

Luzinette Laporte de Carvalho* 

A verdade é terrível. Feita só de substância absoluta do fogo da luz. Aquece, purifica consome. A verdade tem que ser dita como a disseste. Só por te haver custado tanto a dizer, ela é mais preciosa ainda, para mim.

Não verdade gratuita. Toda verdade é dura, difícil. Algumas vezes, mesmo cruel.

Disseste-me: Eu te amo. Com que esforço o disseste! Um esforço tão imenso como se tivesse de arrancar de sob todos os rochedos e montanhas do  universo tua confissão. Com quem entrega a própria alma e teme perdê-la.

O oceano de ternura em mim cresceu suas vagas. De repente, esqueci toda tua atitude ousada e temerária.

Havias-me deixado muda, assustada com o que ousaras. Não te bastara ser para mim um - único -  que não te faça sequência, isto é, que não sejas um número após o singular. Quiseste a prova e foste inconsequente. Agora, ali estava eu, como uma criança, aterrorizada e surpreendida com tua ousadia e teu agir.

Percebeste isto. Percebeste bem. Eu te senti contrafeito e inseguro.

Tomaste-me pela mão e me falaste. Mostraste-me o Cristo e a biblioteca. Fizeste participar do teu mundo mais recluso e íntimo. Emulaste, assim, a oculta ternura com essa sutileza que por vezes em ti é tão intensa. Pronunciaste a única palavra que mitigaria a  minha dor, que desarmaria meu coração: Eu te amo.

Como arrancaste do teu peito, como conseguiste arrancar, com que dificuldade, a confissão.

Era como o ruído de um vulcão despertando. Como se um rochedo falasse. Como se tua alma houvesse lançado, em catapulta, teu coração pela boca.

Mulher que sou, como poderia eu resistir à tua verdade tão profunda, tão bem ocultada até então e  declarada assim, como quem entrega a própria vida?

Meu silêncio e minhas lágrimas te falaram mais do  que mil palavras. E o gesto de abandono da minha mão na tua. E o repousar tranquilo da minha cabeça no teu ombro.

Só o silêncio pode acolher a confissão de um amor assim tão dolorosamente confessado e tão ciosamente guardado. Só o silêncio.

*Escritora e professora / Garanhuns ano 2000.

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