A verdade é terrível. Feita só de substância absoluta do fogo da luz. Aquece, purifica consome. A verdade tem que ser dita como a disseste. Só por te haver custado tanto a dizer, ela é mais preciosa ainda, para mim.
Não verdade gratuita. Toda verdade é dura, difícil. Algumas vezes, mesmo cruel.
Disseste-me: Eu te amo. Com que esforço o disseste! Um esforço tão imenso como se tivesse de arrancar de sob todos os rochedos e montanhas do universo tua confissão. Com quem entrega a própria alma e teme perdê-la.
O oceano de ternura em mim cresceu suas vagas. De repente, esqueci toda tua atitude ousada e temerária.
Havias-me deixado muda, assustada com o que ousaras. Não te bastara ser para mim um - único - que não te faça sequência, isto é, que não sejas um número após o singular. Quiseste a prova e foste inconsequente. Agora, ali estava eu, como uma criança, aterrorizada e surpreendida com tua ousadia e teu agir.
Percebeste isto. Percebeste bem. Eu te senti contrafeito e inseguro.
Tomaste-me pela mão e me falaste. Mostraste-me o Cristo e a biblioteca. Fizeste participar do teu mundo mais recluso e íntimo. Emulaste, assim, a oculta ternura com essa sutileza que por vezes em ti é tão intensa. Pronunciaste a única palavra que mitigaria a minha dor, que desarmaria meu coração: Eu te amo.
Como arrancaste do teu peito, como conseguiste arrancar, com que dificuldade, a confissão.
Era como o ruído de um vulcão despertando. Como se um rochedo falasse. Como se tua alma houvesse lançado, em catapulta, teu coração pela boca.
Mulher que sou, como poderia eu resistir à tua verdade tão profunda, tão bem ocultada até então e declarada assim, como quem entrega a própria vida?
Meu silêncio e minhas lágrimas te falaram mais do que mil palavras. E o gesto de abandono da minha mão na tua. E o repousar tranquilo da minha cabeça no teu ombro.
Só o silêncio pode acolher a confissão de um amor assim tão dolorosamente confessado e tão ciosamente guardado. Só o silêncio.
*Escritora e professora / Garanhuns ano 2000.
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