terça-feira, 17 de junho de 2025

O padre matou o bispo

Dom Expedito Lopes

José Alexandre Saraiva*

"Restaurar tudo em Cristo!" Com esse lema, chegou à diocese de Garanhuns, no ano de 1955, o seu quinto bispo, do Francisco Expedito Lopes. De família humilde, nasceu em um sítio do município cearense de Sobral e ordenou-se padre  em Roma. Como já havia acontecido em Oeiras, Piauí, cujo bispado foi por ele inaugurado, dom Expedito não demorou para cair na graça do povo de Garanhuns e região. Mas havia uma pedra no caminho: o padre Hosana de Siqueira e Silva, da paróquia de Quipapá. De temperamento áspero, andava armado e era namorador. Não raro, negligenciava nas obrigações do sacerdócio. Além de outros namoricos, na comunidade corria à boca miúda sua união em concubinato com uma parente, por ele engravidada. O assunto chegou ao conhecimento do bispo. Especializado em direito canônico, naturalmente ele não iria permitir tamanho acinte contra a igreja. Em meados do ano de 1957, após várias tentativas na afã de restaurar a postura do padre, compreendendo uma sugestão de licença da missão religiosa, o bispo decide suspendê-lo por escrito das celebrações do sacramento. No dia da divulgação do ato por meio radiofônico, como era  praxe, Hosana vai a Garanhuns, dirige-se para à rádio para evitar o anúncio e, não conseguindo, segue de carro até o palácio episcopal e lá dispara três vezes seu revólver contra dom Expedito. Ferido gravemente, horas depois falece.

Agonizando no leito de morte, pergunta pelo padre e o perdoa

Dom Francisco Expedito Lopes, venerado como santo por muitos em Garanhuns, virou nome de cidade no estado do Piauí. Sobre esse prelado, escreveu Manoel Neto Teixeira no seu aclamado livro "Colégio Diocesano de Garanhuns - Cem Anos de Ciência e Fé": "Nos retiros do clero, nós o víamos, sempre, ainda com o escuro da madrugada, de joelhos, na capela. No desempenho do seu lema "Restaurar tudo em Cristo", antecipou sua volta para a Casa do Pai. Nas horas que precederam sua agonia, como durante toda a sua vida, não teve um gesto, uma palavra de revolta ou de vingança. Só o perdão".

Hosana foi condenado a 19 anos de reclusão, mas cumpriu apenas cinco por bom comportamento. Beneficiado com livramento condicional, voltou a cuidar de suas terras no município de Correntes, distante pouco mais de trinta quilômetros de Garanhuns. Octogenário, ali foi assassinado misteriosamente quarenta anos depois com várias pauladas de canga de boi desferidas na cabeça. (Transcrito do jornal O Século de abril de 2018).

Nenhum comentário:

Postar um comentário

O padre matou o bispo

Dom Expedito Lopes José Alexandre Saraiva* "Restaurar tudo em Cristo!" Com esse lema, chegou à diocese de Garanhuns, no ano de 195...