Paulo Gervais
Antes de tudo a consciência que jaz aqui sentado, os olhos fixos na árvore abatida, enquanto em volta tudo se agita. Nada se quedou para admirar o silêncio do homem, cansado de carregar nas palavras o sentido de tudo; ninguém para reclamar os pés do homem, aflito de suportar no ombro a direção das coisas. Sentia que elas prescindiam do significado que ele queria lhes dar; que seguiam o seu itinerário de outras pegadas, impulsionadas por força maior que a sua. Tudo se agitava em volta, sem a sua palavra de comando, sem os seus pés para seguir.
Soube, então, consolado, que podia parar; pôr-se à beira do caminho, sem temer que o rio cessasse de correr; que não estava obrigado a unir as pontas soltas do mundo em torno do eixo permanentemente girando do seu coração; que era suficiente pôr-se a favor da correnteza e nenhum nó havia a dar no mundo, solto que estivesse sobre si na iminência de desmoronar.
Depois, no mato rente ao chão, ir descobrindo um riso de flores; o riso que exige o longo trato do olhar, até o outro reconhecê-lo seu amigo, e desabrochar. O trato que o tempo impõe; a chave que a contemplação, quieta e silenciosa, oferece aos olhos, e que eles giram na fechadura das coisas até abrir-lhes o segredo da graça de existir.
Tudo em volta se agita até a consumição. Também o homem, de acordo ou contra a maré, levantando onda, fazendo água, finalmente quebra na areia. A árvore abatida é como o dia findo. Nela as aves continuam pousando; aéreas flâmulas a aranha ainda tece em seus galhos endurecidos; o sol não acabou. Mudou de lugar.
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