Genivaldo Almeida Pessoa* (foto) | Garanhuns, 2005
PAREDES arquitetadas em forma de ângulos quadriláteros, cercam espaço, edificadas heterogeneamente à junção de tijolos e massa preparada com mistura específica. A construção que estas paredes retratam, revelam um mero cubículo... Cercam também o aparente APRISIONADO.
INERTE, recolhido às reflexões sempre desagradáveis a um ser humano humilde, agora "plagia" a indiferença de objetivos e instalações que lhe acolhem em morada simples. Pessoa pobre de ganhos parcos, solitário, observa agora formas passivas em sua volta, demonstrando desinteresse pelo todo conteúdo da existência. Primeiros raios solares, amenos em época invernosa, são identificados lentamente através da vidraça embaçada. Novo dia, não desperta em mente "anciã", data ou mês que caracteriza o amanhecer.
TUDO retratará apenas, o cotidiano aborrecido, sem motivação para um HOMEM em quem a TRISTEZA patenteia também sua única companhia. O cantar viciado do galo já velho no terreiro da vizinha, o miado manhoso do gato de estimação, sugerem restos de alimentos que lhes possam cessar súplicas de animais famintos. Mesmo que andorinhas, pombos ou pardais estimulem vigor através de sons emitidos em despertar "fulgurante" do dia que nasce, o aspecto humano de ser que desperta evidencia "sombrias" imaginações. Pensamentos opostos à sinal de vida, o reprimem.
O açougueiro ainda confia fornecer-lhe em época natalina, pedaço de filé que será ingerido com sofreguidão, acompanhado a um copo de vinho. Porém, parte do 13º salário já está comprometida.
O panificador, no dia do seu aniversário sem festa, reserva-lhe bolo pequeno sem velas, como presente modesto na conservação da amizade antiga, imposta singularmente pela consideração ao vizinho permanente. Na farmácia, os analgésicos e xaropes adquiridos para consumo próprio, aumentam despesas inevitáveis sem que evite um estado de saúde débil.
O 9º andar, em apartamento alocado no fundo do corredor, um só inquilino é obrigado ser "encarcerado" após porta cerrada. O HABITANTE "uno" que "aporta" agora morada humilde, após dia de trabalho, passa a trajar pijama surrado e, agasalha-se ao cobertor desbotado. Corpo delgado recolhe-se projetando-se à noite fria, quando travesseiro sem fronha apresentando deformações absorvidas pelas formas homogêneas da "escultura" óssea do seu crânio, "testemunha" espectro dúbio de companheiro noturno.
O ambiente revela momento de silêncio, ameaçado apenas pelo ronco revelado em sono turbulento.
OPERÁRIO ANÔNIMO! Nome de batismo só revelado em carteira de trabalho, onde foto já não aparenta feições atuais. Nome registrado ainda em ficha arquivada em escritório da empresa. Os apelidos expressos no convívio diário com os que compartilham em seu serviço, são vulgares: "ERMITÃO ou SIRI CAOLHO", não se compara ao nome pronunciado pelo vigário da paróquia do interior, em pia batismal.
Quando noite chega... Após algumas horas de serão, retorna em passadas lentas e caminhada longa ao que chama de LAR... Um pão, uma xícara de café morno, coado com pouco pó, ovo mal passado em frigideira com resto de óleo já utilizado no período matinal, ameniza fome. ÁGUA do pote, "adornado" com lodo, é retirada com caneca sem asa para abrandar-lhe sede. TAMBORETE rústico serve de assento para corpo que ainda resiste às adversidades que lhes reservam o decorrer da semana. O rádio com pilhas gasta, é incapaz de entoar melodias que amenizam solidão. Durante o sono, sonha ainda com a professorinha do bairro a quem confessou AMOR, sem que timidez pudesse ser superada em declaração inevitavelmente não correspondia.
O HOMEM, amigo de poucos que lhes retribuem cumprimentos formais, é pacato, sem astúcia ou perversidade. Sobe e desce escadas de degraus íngremes. Também, reparte alimento frugal com o mendigo que lhe aguarda ansioso na calçada que antecede o andar térreo do prédio.
JOÃO! Nome verdadeiro do homem que quando criança era "Joãozinho". Adolescente, zagueiro central no time de peladas, passou a ser joãozito. No forró de final de semana, no bairro de origem, foi apelidado de "Joca cabeludo". HOJE, no amanhecer do novo dia , qualquer nome pode ser o seu. O que importa...?
NOSSO BRASIL. TAMBÉM MUDOU DE NOME... "NÓS SOMOS O OUTRO AMANHÃ...".
*Professor e escritor.
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