Dezoito anos sorriem no rosto de Bárbara. Manhã, em casa, arruma as coisas, para o dia de uma sala florida e prazerosa. As cortinas balançam, com a leve ventania. E a jovem se move, como se estivesse num baile. Mas, de repente, o avô, com quem vive só, se levanta. Toma sempre o café muito cedo, e vai e insiste na noite no quarto. Aparece, gemendo... Bárbara supõe que geme. Os ossos, os poucos fios de cabelo, a roupa economizada de sempre. Ela, a jovem, convive, levando em conta as boas possibilidades financeiras do velho. E não tem mais dúvida de que esse outro extremo da vida, que vê, a contraria e é um peso. Seu Elias, o nome do idoso, como chamam, é um homem morto-vivo. Ela convive!
Numa antiga casa, de lanches, digamos, Bárbara está de chale, segura uma bengala, e, num canto, sentada, lembra-se de outros tempos ali. Desde os anos de jovem, frequentava a casa. Vê-se, momentaneamente, no tempo em que usava sapatos altos, vestido decotado e os cabelos pintados.
Aparece, perto, um moço bem vestido, e a olha nos seus olhos e sorri. Bárbara tem alguma lembrança. Observa, atenta.
E vê que se parece muito com um retrato do avô, quando era jovem. Havia o quadro ficado na sala, numa parede. Dava frescura e jovialidade ao ambiente. Ela, um pouco assustada, se interessa e sorri também. Um sorriso rebuscado, dos seus 18 anos.
*João Marques dos Santos, natural de Garanhuns, onde sempre residiu, é poeta, contista, cronista e compositor. Teve diversas funções nas atividades culturais da cidade: foi Presidente da Academia de Letras de Garanhuns, durante 18 anos, Diretor de Cultura do Município e, atualmente, é presidente da Academia dos Amigos de Garanhuns - AMIGA. Compôs, letra e música, o Hino de Garanhuns. Mantém, desde 1995, o jornal de cultura O Século. Publicou quatro livros de poesia: Temas de Garanhuns, Partições do Silêncio, Messes do azul e Barro.
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