segunda-feira, 4 de agosto de 2025

Madrugada

Pedro Ribeiro | Garanhuns, 06/01/2010

Madrugada não é meio de noite, quando os boêmios se roçam encapuzados de volúpia. Madrugada não é permeio da noite, quando os bêbedos se pendulam, tal mariposas volteando as luzes. Madrugada não é noite á dentro quando gargalhadas e risos de mulheres extasiadas, retalham o silêncio e as luminárias cansadas alumia os vícios que passam. Madrugada não é cabaré que lembra cachaça, cama fofa e mulher de perfume nauseante, roída de desejo. Madrugada não é ainda radiosa sonolenta que derrama música dolente pela noite, nem, casais agarradinhos que se aconchegam nem notívagos que palmeiam estórias. Madrugada é a infância do dia e acriance da manhã. É uma pureza de luzes que se  esparramam pachorrentamente, afugentado  as sombras é a noiva pudica que se sacode, rebola no leito da manhã, depois de uma noite brumosa. É o nascimento festivo do luzeiro; encenação do ato, novo dia; criação que se renova, transforma-se; e se aperfeiçoa. Madrugada é a invasão lenta e majestosa da claridade na escuridão, que se esgarça, esfuma-se, correndo medroso atrás da mulata, a noite madrugada é, também, nuvens que se aclaram, prédios que se incendeiam, montes que ressurgem, mar si lente, e reboante lambuzado de cores luzidias. Madrugada, primeiros veículos, homens que começam a trabalhar, o leiteiro, o jornaleiro, cidades que se vivificam. É um conjunto de imagens que renascem, nunca iguais, assim como as vidas, jamais, semelhantes sempre se levanta difusa, alegre, tristonha madrugada, tem cheiro bom. Cheiro de capim, de mato quebrado, terra molhada, de mulher amada, do ontem saudoso que foi embora e não volta mais. Madrugada que se levanta, que se acorda cedo, que madrugada. Madrugada é como a vida, o começo de um novo dia.

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