segunda-feira, 21 de julho de 2025

A menina que falava com as coisas

João Marques dos Santos

João Marques* | Garanhuns, 09/12/1994

O livro de Luzinette Laporte  de Carvalho já vai na quinta edição. Em reunião do Grêmio, há poucas semanas, demos-lhe uma 'salva de palmas', com a sinceridade dos eruditos aplausos. Não me lembro de ter visto outro livro, daqui de Garanhuns, que tenha ido tão longe. Aplaudi e tornei a ler  "A Menina que falava com as coisas". A ver, direi melhor... a ver "as coisas", os ventos, a estrela da tarde falando. Caminhando e percebendo igual "Ao homem que, com alma de criança, na esperança, caminha. À criança que percebe a alma das coisas".

O LIVRO É PARA TODOS

O livro não é só para criança ou gente grande, é também para o homem que pode ser criança, santo, poeta ou profeta. São quem pode salvar o mundo, de tudo que é ruim, como falou o Anjo da Esperança, da Verdade, da Fé, do livro de Luzinette. Li-o, caminhando e, enquanto o sol desceu mais à janela, os ventos entraram e saíram da sala sem fazer ruído, acabei mais adiante quase criança e, aquelas outras pessoas do Anjo.


Já sonhei, isto foi em 1970, que era anjo. Não tinha, contudo, as asas e os cabelos louros. A roupa branca. Alva como a luz mais branca. E, se não tinha asas, cabelos, esses adornos dos nossos anjos, também não tinha dos homens o corpo, os bolsos, apenas, como nos sonhos, a leveza da luz e do sentimento inteiro da paz. O anjo de Luzinette Laporte, com efeito, não aparece, só fala. E pouco! Apresentou-se dizendo "Eu sou o Anjo da Esperança, da Verdade, da Fé." Não foi descrito, como foram os ventos: "os atléticos que sopravam forte e quase com violência... as brisas graciosas e bailarinas... um velho vento bonachão e sábio, com jeito de avô." Isto ! qualquer anjo, o meu, o de Luzinette, o das alegorias clássicas, todos têm o jeito de avô, de sábio, de bonachão e de vento. Têm jeito!... Mas, com certeza, são anjo (sem os "ss").

O ANJO

Lúcia e "uma menininha que conversava com as "coisas" que viu - viu mesmo! - a face pura e sorridente da Esperança, tão criança quanto ela." Ela, a menina, é a personagem graciosa, a única, humana, do livro. Tem a beleza e a sabedoria das almas puras. A sua linguagem é a da meditação das pedras, do brilho do sol, da dinâmica dos ventos, da ideia (boa) da estrela da tarde. Todos se comunicam, dos vermezinhos ao sol. A menina ouve-os todos. Lúcia só não sabe os significados de certas palavras, próprias das imperfeições humanas, principalmente. Supérfluo. "-Que é "supérfluo"? Bolsa de Valores. "- O que é Bolsa de Valores?" Não sei o que é isso". Outras interrogações são por conta da identificação do personagem com o estado de inocência da criança. Quero dizer que o que Lúcia parece não saber corre por conta da autora do livro, que dá a menininha a mais terna infantilidade. E consegue, juntos, a inocência e a sabedoria, a criança e o anjo.

Uma vez, quando Lúcia conversava com a Estrela da Tarde sobre os homens, que  sempre andam muito preocupados com o desenvolvimento da tecnologia, esquecendo até de si próprios, o Anjo se meteu na conversa, para dizer: "- Menos os santos, os poetas e os profetas..." Ao que a menina, na sua proposital inocência, para não fugir do diálogo que mantinha coma Estrela da Tarde, interviu surpreendentemente: "- Depois, Anjo, Você nos explica isso, viu?" Que intimidade! Que nivelamento maravilhoso que há entre essas idades, a da criança e a do anjo... Tudo, no livro, fala a linguagem do entendimento e do amor. Todos, ainda mais o mar, a lua, as plantas, as fontes, os pássaros, as borboletas... São bons amigos e pensam em ajudar a salvar o mundo. E, "unidos", não apenas reunidos, escrevem uma carta à ONU, na forma de pensar e na linguagem do entrosamento entre as pequeninas coisas da natureza, como entre os vermes e o sol, a criança e o anjo, e as maiores e mais poderosas no domínio da terra e do céu.

Naturalmente, o vento e os outros recursos irão espalhando a mensagem pelo mundo. O tempo, que tem toga de professor e de magistrado, há-de concorrer com sua ação, vagarosa, mas constante. O livro "A Menina que falava com as coisas" está na 5ª edição. Não é uma maravilha!? Que  dirá a fonte? - Vai córrego! Corre, corre para o Mar!

*João Marques dos Santos, natural de Garanhuns, onde sempre residiu, é poeta, contista, cronista e compositor.  Teve diversas funções nas atividades culturais da cidade: foi Presidente da Academia de Letras de Garanhuns, durante 18 anos, Diretor de Cultura do Município e, atualmente, é presidente da Academia dos Amigos de Garanhuns - AMIGA. Compôs, letra e música, o Hino de Garanhuns. Mantém, desde 1995, o jornal de cultura O Século. Publicou quatro livros de poesia: Temas de Garanhuns, Partições do Silêncio, Messes do azul e Barro.

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