sexta-feira, 18 de julho de 2025

Revelações - Parte VIII

Luzinette Laporte de Carvalho

Luzinette Laporte de Carvalho* 

Reflito: não existe experiência. Existe a tentativa de saber o que é. A experiência existe apenas no momento, e já não é mais. Todas as experiências somadas não são a sabedoria. E a experiência que se tem agora não serve para daqui a pouco.

Não procures em mim, pois, experiência. Vou errar até o último alento. O que significa: vou crescer; vou crescer, vou descobrir, realizar maravilhosas descobertas. Porém, jamais serei alguém com um  cabedal de experiência a oferecer. Só tenho revelações. E revelações são relâmpagos de sabedoria, não frutos da experiência. Tenho muito do que sei, do que aprendi, porém, não experiência. Não sou uma pessoa experimentada. Sou uma pessoa provada, purificada em dor e alegria. Alguém no limiar, no umbral de algo tão maior do que o que quer que possa imaginar.

Busco o caminho, a rota certa. Perco-me por vezes. Mas sei dizer qual seja. O que ocorre é que a bússola, por vezes me escapa das mãos e fico à mercê de guias cegos. Paro, então, pois não vou abandonar-me aos riscos de uma caminhada sem roteiro. Paro e aguardo, num clamor silencioso de oração.

Tenho que andar sempre. Embora todas as vezes que me ponha a andar, caia. Firo-me. Estou cheia de  contusões. (Há porém  a alegria cujas raízes ignoram, cuja força desconhecem). Não sabes quanto me custa tudo isto. Só eu sei. Uma dor sem fim, uma constante escalada - deslizamentos. Deslizo tanto que chego a pensar que jamais cheguei ao cimo.

Mas já logrei atingi-lo. Poucas vezes. Porém tenho que voltar para apanhar algo de valor que escapou na  subida. E ao voltar - por maior cuidado que eu tenha - resvalo em algum obstáculo dissimulado, pouco perceptível.

Jamais conseguirei caminhar sem quedas, por esse  caminho de subir-e-descer. É a montanha e a praia. Nesse vaivém consumo meus dias e noites. E aprendo mil coisas diversas.

Busco a sabedoria, sei que ela construiu. Quero habitar nela. Sofro ser ignorante. Mas há uma grande sabedoria em tua ignorância, sussurra-me uma voz. E, de  repente, descubro o que ela me quer dizer. Minha ignorância é sabedoria, enquanto sei que sou ignorante.

Sabedoria é saber que há coisas que não sei. Que sim ou não preciso aprender. É saber que há uma  passagem  à frente - ou às costas, ao lado - por onde posso seguir até o final do túnel ou corredor, campo, pátio, praça ou seja lá o que for - onde se acha algo desconhecido, mas que adivinho. Depois de atravessar, pode ser, para mim, luz ou treva, mas sei que terei que  elevar as mãos em ação de graças. Ou o coração e, com ele, meu ser inteiro. Poderei cantar: encontrei, sei que consegui. Isto é sabedoria: saber que existe algo além de.

Não quero fazer jogos de conceitos. (Temo tomar-me cultista). O que eu quero é revelar que existe algo terrível e grandioso. Algo de cuja existência carrego a certeza. E que poderá ser um grande (horrível) vazio ou  uma grande (medonha) treva. Mas que guarda em sua essência plenitude e luz. Independe do que sintamos no primeiro impacto. Será sempre luz e plenitude, quando nos acostumamos às suas dimensões abissais.

Não sei dizer mais nada. É sempre assim quando falo sobre isto: é como se todas as palavras se esvaziassem, se esgotassem. Resta-me só o silêncio. Como se descobrisse por experiência própria que lá se encontra a Palavra, a sabedoria. Luz e treva. Vazio e plenitude.

Tenho que parar. Eu me sinto menor que um grão de poeira.

Percebes que o cerne de cada coisa é ela mesma. Toda intensidade-profundidade que existe em casa coisa, é ele mesma. Isto é, cada coisa tem força em si por ser essa coisa.

Quanto mais penso e aprofundo as coisas, mais encontro um centro comum para elas. O caminhar de todos os seres para um núcleo comum. E se alguém não obedece à atração, é porque esse alguém porta em si a força negativa da dispersão e do desvio. Rebeldia primeira a última. Negar-se ao fim, não é o comum do encontro. Porque - eu te revelo-o comum é o desencontro.

*Professora e escritora | Garanhuns, PE - 2000.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Revelações - Parte XX

Luzinette Laporte de Carvalho* Deixo-me arrastar pela minha distância, mas  torno-me / faço-me bem próxima. O certo é que estou cansada de t...