sábado, 30 de novembro de 2024

Arlinda da Mota Valença - Colégio Santa Sofia do meu tempo



Arlinda da Mota Valença*

Vim para Garanhuns em maio de 1913, tendo encontrado o funcionamento no prédio atualmente ocupado pelo Bradesco, o Colégio santa Sofia das Damas da Instrução Cristã, trazido para aqui, pelo vigário da Paróquia - o Mons. Afonso Pequeno. Aí, fiz eu a minha Primeira Comunhão, ministrada pelo capelão, o Padre Antero.

As Damas da Instrução Cristã, de origem belga, resolveram residir definitivamente em Garanhuns, e começaram a construção do seu atual prédio próprio, mais ou menos em 1913.

Alta noite, a cidade despertou com o badalar alarmante dos sinos da Matriz de Santo Antônio, pedindo socorro; um incêndio se alastrava na construção então iniciada.

Instalado no novo prédio, o Colégio Santa Sofia, assistido pelas bênçãos de Deus, partiu desempenhando plenamente a sua missão - a instrução cristã - matriculando crianças e jovens de ambos os sexos, sob a direção da superiora Madame Elisabeth e da vice - a genial Madame Dominique.



Já em 1915, minhas irmãs e eu íamos aos domingos brincar de pular corda, com Davina e Olívia, duas das sete primeiras internas no colégio.

De acordo com a orientação da casa mãe, da Bélgica, o curso completo era feito no colégio, em nove anos, assim distribuídos: a) inferior 3ª, 2ª e 1ª classes; b) médio 3ª, 2ª e 1ª classes; c) superior 3ª, 2ª e 1ª classes. O ensino de desenho, pintura e piano, eram ministrados à parte.

ANGÉLICA MONTEIRO

Alunas que sobressaíram: Lavínia Coelho (cultural geral) e Angélica Monteiro (pintura). Os quadros da Via Sacra que atualmente que atualmente se encontram nas paredes internas da Catedral, foram pintados por ela.

Em maio de 1917 matriculei-me na terceira classe média, com minha irmã. O colégio já deixara de ser misto. Havia na Casa as seguintes religiosas: (Madames) Elisabeth, Dominique, Maria José, Clara, Mariana, Antonieta, (Soeur) Livínia e Filipina - integradas um pouco mais tarde por Madame Verônica e Joana.

A data de 18 de setembro - o dia do Colégio - era comemorada com uma belíssima festa, à qual todas as alunas compareciam vestidas de branco com uma faixa vermelha na cintura e um laço vermelho, no cabelo. No discurso de encerramento, cada vez que a oradora fazia referência à  "Senhora Superiora", todas curvavam a cabeça em sinal de  reverência.

No dia 15 de maio de 1923, 16 alunas foram aprovadas no exame de seleção para o Curso Normal do Colégio, cuja equiparação à Escola Normal Oficial de Pernambuco, havia sido conseguida pelos esforços do Bispo Diocesano Dom João Tavares de Moura. O primeiro Fiscal do Curso foi o Dr. Víctor de Moura; e os professores e assistentes foram: Pe. José Ferreira Antero, Pe. José de Anchieta Callou, Pe. Joaquim Elysio Cavalcanti, Dr. Mário Matos, Dr. Reinaldo Moreira, Professora Carmen Novais  as religiosas Elisabeth, Verônica, Joaquina e Mariana.

Das 16 alunas que começaram a frequentar o Curso, apenas seis concluíram: no dia 05.11.26, Maria Laura Barros, Maria de Lourdes Brasileiro e Arlinda Valença; e em 1927, Bruneilde Viana, Carmem Viana e Alice Moreira.

As três primeiras Superiores da Casa de Garanhuns foram Mme. Elisabeth (belga), de caráter no tocante à guarda do seu rebanho. Mme. Inês (francesa), concluinte do curso de Medicina, quando se fez religiosa; era enérgica, perspicaz, e administrava com a alma e o grande coração - coração que cedo a levou para o céu. Mme. Verônica (brasileira) jovem, culta, enérgica e ativa; tinha muita influência sobre a formação moral das alunas; algumas delas ainda hoje conservam em seus lares, a sua lembrança.

PADRE JOSÉ ANTERO

Os três primeiros capelães do Colégio foram sucessivamente os Padres José Antero, Joaquim Elysio e Manuel Diegues Neto. E os três primeiros acólitos nas Missas e Bênçãos foram: Cláudio Pérez, Agobar Valença, e Adelmar Valença.

A Mme. Elisabety contava às alunas maiores, para fazê-las rir, que as Damas vindo para o Brasil como missionárias da instrução, trouxeram Irmãs que sabiam costurar, fabricar sapatos, etc., prevenindo-se contra as dificuldades que previam; que as casas que as esperavam eram tão baixinhas que para nas mesmas entrarem, teriam que se recurvarem. E ainda: que ela vindo a Garanhuns, comprara na estação do trem do Recife, "um bilhete de ir e vir" (passagem de ida e volta).

E o Santa Sofia de ontem chega até hoje, na vivência do seu lema - "Gaudere et bene fácere" e estimulado pelo que se canta no seu Hino Oficial, de autoria de um dos professores da Casa  - o Mons. Pedro Magno de Godoy: "Erguido em Colinas verdejantes" - "Jardim de corações, almas de escol" - "A instrução é vida, que à glória conduz".

*D. Arlinda da Mota Valença foi Secretária de Finanças do Município por duas gestões, professora do Colégio Diocesano e outros educandários de Garanhuns. Faleceu em 07 de julho de 1997.

Fotos: (1) - Arlinda da Mota Valença. (2) - Colégio Santa Sofia.

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